Caro Mauri,
Sou morador de Estância Velha, assinante do O Diário. Leio com atenção a todas as informações, mesmo simples releases reproduzido no jornal, sempre que é entregue na minha casa ainda na madrugada (aliás, meritória a distribuiçao do jornal). Tenho gosto por conhecer a opinião dos colunista quando as manifestam de forma geral ou especifica em relação a cada município aonde o jornal circula. É claro que nem todas as opiniões assinadas expressam a opinião da empresa. E, mais, é válido a diversidade e a pluralidade de opiniões. É um valor democrático.
Na edição de hoje, 16.04, na tua coluna na pagina 2, expressastes tua opinião a cerca das famílias beneficiadas com o “Programa Bolsa Família”. Lia-a percebendo um ranço preconceituoso que não é comum nas páginas de O Diario. Chamaste este “beneficio social” – criticável, de acordo com o ponto de vista e ideologia de cada um – de “Bolsa-Cachaça ou Vale-Pinga”. Da a entender que as milhares de famílias beneficiárias do PBF são indigentes alcoólicos na sua totalidade. Li tal afirmação com tristeza procurando entender por que um colunista qualificado e bem informado, dá vazão a afirmações do senso comum generalizantes e preconceituosas?
Em Estância Velha, 1.174 famílias recebem o beneficio do BF. Considerando um núcleo familiar de cinco pessoas, significam em torno de seis mil habitantes que atendidas pelo Bolsa Familia. Ou seja, cerca de 14% da população de Estância Velha (estimada atualmente em 43 mil habitantes). Considere-se ainda que, conforme os critérios do PBF, em termos de valores, circulam dentro de Estância Velha, todo o mês, em torno de R$ 122.892,00, ou seja, por ano, R$ 1.474.704,00. Rateando isso pelo número total estimado de pessoas beneficiadas, significaria, R$ 587,27 por ano por pessoa. Se dividirmos isso por 365 dias teremos, R$ 1,60 por pessoa dia (ai incluindo adultos, crianças e adolescentes). Até pode ser que estejas certo. Com tal valor por dia para comer, dormir, vestir-se, é bem provável cada pessoa preferisse ou só conseguisse acesso ao valor calórico e fugaz de uma garrafa de cachaça por dia. Mesmo que seja esta uma possibilidade, de forma alguma posso afirmá-la como único nem majoritário uso do beneficio. Estas informações, podem ser obtidas no site do Ministério do Desenvolvimento Social e Combate a Fome (http://www.mds.gov.br/bolsafamilia ).
De qualquer forma, dentro de um pais, historicamente, campeão em desigualdade social e concentração de renda, onde nem migalhas eram redistribuidas, tal programa - que tem suas raizaes lá no dito "governo neoliberal FHC - acaba sendo algo "melhor que nada". Ainda, por mais que o valor deste beneficio social que o governo usa como “mecanismo de redistribuição de renda” – seria melhor dizer de migalhas – seja tão ínfimo, não se pode atribuir as famílias que o tem como único apoio a garantia de sua sobrevivência – veja que só ganha o beneficio quem mantêm os filhos na escola até os 17 anos (se a educação é ruim, é outra conversa) – a pecha de “bando de cachaceiros pagos pelo governo” como a sua coluna sugere é, senão preconceituosa, afrontosa.
Respeito a opinião de quem a quer manifestar da forma como a quiser, seja ele de direita, de esquerda, seja um nazista, um crente, um ateu. Numa democracia isso é sagrado, assim como deve ser sagrado discordar e criticar a opinião da opinião manifesta por outrem. Por esta conta a sua opinião é, para mim, claramente discriminatória, preconceituosa e, por ser expressa num veiculo de grande circulação e credibilidade, acaba parecendo uma verdade, ou seja, valida também um preconceito. Aliás, isso é um dos males da mídia no espaço democrático. A opinião expressa pelos seus donos, comentaristas ou colunistas tem espaço e tempo, sempre muito maiores do que a de quem as queira contrapor. Mas ainda é preferível assim do que nenhum espaço, como acontece em governos ditatoriais.
Por fim, sugiro uma pauta que pode ser do interesse dos leitores do Jornal O Diário. Uma matéria, ou várias, sobre a incidência do PBF nos municípios aonde circula o jornal. Seria uma excelente para informar com detalhes os objetivos e também o perfil das famílias que recebem. É certo que poderão descobrir muitas famílias recebendo o beneficio que hoje já não se enquadram mais nele e, por outro lado, famílias para as quais os cerca de R$ 120 mensais teria grande valia, mas estão fora do programa. Fica a sugestão.
Respeitosamente,
Daniel Fernando Ribeiro.
http://novo.odiario.net/colunas/Curtas...
Nenhum comentário:
Postar um comentário