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quinta-feira, 14 de agosto de 2014

Afeto não se determina por lei

Um filho se orienta, desde os seus primeiros passos, com carinho, com conversa, com exemplo. Não se cria um filho apenas com concessões, ao contrário. 

Às vezes, a conversa, o exemplo, o carinho,  parecem não serem o suficiente para mostrar, para recolocá-lo, no caminho certo a ser seguido.

Às vezes, é necessário um "castigo", cortar algo que lhe é prazeroso (brincar, jogar video-game ou bola), ou, ainda, uma ou duas chineladas, uma ou duas palmadas, no lugar apropriado, podem ser um reforço ao que foi falado, ao que, pelo exemplo, foi mostrado ao filho e este ainda não compreendeu.  Foi assim, que a maioria das pessoas, com mais de 40 anos,  foram criadas.

É certo também, que eram "outros tempos".  Via de regra, apenas um provedor era suficiente à casa, ou seja, apenas o pai trabalhava. Haviam menos coisas a se querer para a manutenção da familia (não havia celular, sequer telefone convencional, TV paga, computador, internet, o trabalho era mais próximo da casa, o apelo consumista parecia ser menor). A vida, olhando daqui para lá, era mais simples. Hoje, pai e mãe trabalham, a convivência de ambos com os filhos diminuiu.  O filho convive mais com a TV, com a Internet, com outras pessoas. Cada um quer ter o que o outro tem ou mais do que o outro tem.  É complicado.

Diante da pressão desta vida corrida, competitiva, consumista, o carinho, a conversa, o exemplo é substituído pelo produto da moda.  Quando não isso, o filho rebela-se e na ausência de outras formas de educação, acabam achando como saida, impor o respeito paterno/materno ao filho pequeno, pela violência, não por uma ou duas palmadas. Dai, a coisa chega num nível que acrescentam uma lei proibindo - e com penas - para quem for denunciado ou pego cometendo tal ação.  É a saída?  É a solução?  Isso vai fazer com que pais ausentes sejam mais presentes?  Vai fazer com que não deem presentes, mas carinho, bons exemplos, presença aos filhos?  Afeto não se determina por lei.

Pais respiram aliviados e mesmo a sociedade aplaude e insiste na necessidade da escola oferecer tempo integral de atenção ao seu filho.  Não, veem nesta proposta de escola a perspectiva de qualificação e ampliação das possibilidades de aprendizagem de seus filhos mas, antes, a oportunidade de legar para alguém, a instituição escola, o cuidado dos seus filhos por um dia inteiro enquanto trabalham.   Melhor ainda se for o governo, se não precisarem pagar a outrem - uma escola particular para isso -, facilita e sobra algum mais para suprir aos filhos os seus quereres e não as suas necessidades.  Não fosse isso, hoje, as famílias cada vez mais são constituídas de forma diferente da de "outros tempos".  Quando não, a familia é composta apenas pela mãe, senão, quem faz as vezes, de mãe e pai, são os pais desses, os avós. Como é difícil hoje ser criança.  Parece que era tão mais fácil, antigamente. Pai era pai, mãe era mãe, avó era avó.  Hoje, pai pode ser a namorada da mãe e mãe o namorado do pai. Já avó continua sendo avó, mas esta mais com a gente do que a mãe ou o pai e não quando vamos visita-la nas férias, como antigamente.  
Quantos hoje ainda dedicam algum tempo apenas para brincar com os filhos?

É um mundo confuso e novo este de hoje. Nele, uma palmada continua sendo uma violência.  Porém, muitas coisas que foram a infância de quem já passou dos 40, para as crianças de hoje, não existe mais como atributo da infância.  Crianças não sabem mais jogar pinica (bolinha de gude). Campinhos de terra ou parca grama, próximo a casa, para se jogar bola desapareceram.  Meninas não tem mais boneca para brincar de casinha, mas uma boneca fashion (isso quando as mães não se dedicam a vesti-las e maquia-las como se jovens mulheres já fossem, mesmo aos 10 anos!).   Um mundo onde o pai não faz mais pandorga e corre pelo meio da lavoura ou da rua, na tentativa de que ela voe e o filho o veja como um engenheiro aeronauta extraordinário.

Um mundo que era pequeno, lá numa cidadezinha do interior, mas que parecia extraordinariamente, sem fim, hoje não tem fronteiras e esta ao alcance de todos cada vez mais enclausurados e "navegantes virtuais".   Um mundo onde a voz do pai, era suficiente para se evitar uma peraltice ou mesmo já um castigo. Um puxão de orelha reconduzia a gente pelo caminho certo.  Este mundo foi trocado pelo de hoje, onde uma palmada é crime, mas não é crime a desatenção, o desamor, a falta de afeto, de carinho, a falta de tempo para simplesmente abraçar e brincar com os filhos.  Talvez o melhor castigo 'corretivo' para um filho, paradoxalmente, nestes tempos "nudernos" seja exatamente, dar-lhe atenção.