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segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Tatú atropelado

O clima esta escatológico. É isso? Que seja. Chuvas, tempestades, pedras, ventos. Até os tatús (fica com acento de acordo com a nova reforma ortográfica? - não importa) estão abandonando suas tocas, por certo, inundadas pela umidade extrema desses dias. Tanto é assim que hoje, 28.09, no caminho para o trabalho, observei na avenida principal de acesso a cidade um volume esquisito na linha divisória do asfalto. "Um tatú?" Perguntei-me, pensando alto. Passei do trajeto mas encafifei. "Um tatú, aqui em pleno asfalto, à entrada da cidade?". É certo que às duas margens da avenida há terrenos não urbanizados, mas estes bichos são raros de serem avistados. Um quilômetro adiante dei volta. No retorno, passei pelo local e lá estava o bicho, estático. Morto? Estacionei o carro e desci. A chuva tinha amainado. Uma garoa fina cai. Cuidei para atravessar até o meio da avenida e chegar junto ao cordão central onde estava o bicho, lastimado. Definitivamente, morto, constatei. Pelo visto o atropelamento tinha sido a pouco. Não haviam ferimentos expostos e não havia sangue. Estimei que ele atravessara a via no momento errado. 7h20 era um horário de tráfego intenso. Péssimo horário para um bicho lento atravessar uma via movimentada.

Peguei o animal pelo rabo e cruzei a via de volta. Alguns carros passaram por mim e, por certo, os condutores olharam admirados a cena estranha de um homem carregando um bicho pelo rabo. Quem conhecia identificou que era um tatú. Devem ter pensado: "Olhe só, o cara atropelou um tatu e agora esta vai levá-lo para o café da manhã". Dizem que a carne de tatú é apetitosa.  Nunca experimentei. Coloquei o bicho no porta-malas e rumei para o trabalho. Sou professor, meu trabalho é na escola. Achei que o inusitado fato e o bicho, quase raro, poderiam servir para um aprendizado pedagógico.

Cheguei na escola, na hora em que a sineta soava pela primeira vez. Estacionei o carro.  Retirei o tatú, morto, do porta-malas.  A cena chamou a atenção de alguns alunos que chegavam no mesmo momento. Alguns acorreram na minha direção, curiosos.  Os garotos fazendo perguntas. Algumas meninas fugiram com ar de nojo. Questionaram-me como eu havia conseguido aquele animal.  Contei a história. Depois, deixei o bicho deitado sobre um jornal e fui para a sala. Lá mais perguntas. Ao final de várias explicações e algumas observações sobre o valor e sabor da carne de tatu, um aluno pediu para levá-lo. "Meu pai poderia usar o casco, principalmente, para fazer cabo de faca e preparar ele como comida", assegurou. Ascendi que sim. Mas observei que transportar um animal selvagem ainda mais morto, poderia implicar em situação de suspeita de crime ambiental, caso fosse parado por alguma autoridade policial. Ao final das aulas do turno da manhã, o aluno levou o bicho para casa. Espero noticias do que resultou do mesmo.

Contada a história resta a constatação de que o clima talvez tenha favorecido ao triste destino do tatú que, pelo que pesquisei, deve ser da familia Tolypeutes tricinctus, o dito tatú-bola. Pelo que consta é o menor tatu brasileiro, o único tatu endêmico, isto é, que existe apenas no nosso Brasil. É o mais ameaçado, porque, como não cava bem como os outros tatus, é mais fácil de ser caçado. Este, pelo visto sobreviveu em plena área urbana. Não sei por quanto tempo, mas, ao final, foi vitima daquilo que mais mata Brasil a fora: o trânsito.
* Foto do bicho, inevitavelmente, atropelado e morto.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Duas considerações

A lei que obriga a execução do hino nacional uma vez por semana nas escolas públicas e particulares de ensino fundamental está no Diário Oficial da União desta terça-feira, dia 22.09.09. De autoria do deputado federal Lincoln Portela (PR-MG), a lei foi sancionada na segunda-feira pelo presidente em exercício José Alencar e passa a valer a partir desta terça-feira.
O Diário Oficial desta terça-feira também traz a lei que inscreve o nome do índio guarani José Tiaraju, o Sepé Tiaraju, no Livro dos Heróis da Pátria, que fica no Panteão da Liberdade e da Democracia, na Praça dos Três Poderes, em Brasília.
A iniciativa marca os 250 anos da morte do índio, que liderou os indígenas dos Sete Povos das Missões, no Rio Grande do Sul, contra as tropas portuguesas e espanholas. Sepé era admirado por todos, pelas vitórias que acumulava nos jogos da tribo. Morreu em combate contra o exército espanhol na Batalha de Caiboaté, às margens da Sanga da Bica, na entrada da cidade de São Gabriel, durante a invasão das forças inimigas às aldeias dos Sete Povos.

Duas considerações: uma lei para que a valorização do hino nacional a partir das escolas. É válida. Os simbolos nacionais são a idendificação de uma nação e precisam se lembrados, conhecidos e respeitados, muito embora, infelizmente, se precise de lei para tanto. Já a inscrição do indio gaúcho, Sepé Tiaraju, no Panteão dos heróis nacionais, é também simbólico e vale mais pela lenda do que pelo que se sabe de fato deste personagem da história nacional.

domingo, 20 de setembro de 2009

Sofismas legislativos

Li um artigo do deputado federal Pompeo de Mattos (PDT) na editoria de “Tema para Debate” de ZH de 20.09.09. Há no mesmo espaço um contraponto do vereador Sebastião Melo (PTB-POA). Ative-me ao escrito do deputado, pois este é digno estar inscrito no portal da Galeria Sofismática da Política Brasileira. Ele defende o aumento do número de vereadores conforme Projeto de Emenda Constitucional (PEC), já aprovada na Câmara dos Deputados e também no Senado Federal. Afirma que a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), “desarrumou a representação parlamentar nos municípios”, quando reduziu o numero de vereadores em municípios com população acima de 50 mil habitantes e manteve o mesmo número em município com população inferior a esta. É, sem dúvida, um primor de sofisma. Sofisma consiste em apresentar um raciocínio dedutivamente válido quando não o é.
O argumento é de que haverá redução do percentual destinado as Câmaras de Vereadores do Orçamento do município. É efetivamente, falsa esta afirmação. O fato é que raríssimos municípios, a exceção dos grandes, o percentual constitucional de recursos a serem repassados aos Legislativos é integral.
Apliquemos um exemplo: em Estância Velha, o salário de um vereador é de R$ 2.600,00. São nove. Ou seja, R$ 304.200,00 (já considerando 13º. É vereador também tem). A partir de 2010, serão mais 4 (conforme o texto da Câmara). Isso significará um gasto adicional de R$ 135.200,00 (44,44%, a mais!!!) Isso sem contar os assessores e diárias. Neste item, em 2008, os nove edis de Estância Velha gastaram R$ 222.942,06. O percentual de gastos do Legislativo em relação as receitas correntes do município, não chega a 2%, justamente por que os vereadores estão amarrados ao salários cujo valor só pode ser modificado de um mandato para o outro e, neste período, só podem sofrer reajustes nos percentuais que o Executivo conceder a todos os servidores.
Com a proposta defendida pelo deputado Pompeo de Mattos, fica visível que haverá acréscimo substancial nas despesas com a manutenção do Legislativo que corresponde a metade dos gastos anuais do município com medicamentos distribuídos gratuitamente para a população. Isso se os atuais não fecharem um acordo com os eleitos para o mandato seguinte e aumentarem os vencimentos totais para o próximo mandato.
Estes dados referem-se a um município de médio porte. Estância Velha tem ao redor de 42 mil habitantes e um orçamento anual de R$ 56 milhões (2009). Pode-se daí observar que qualquer município deste ou de porte maior que não a capital, onde o imoral percentual constitucional não é atingido, mesmo que agora reduzido, sofrerão com a mesma situação. Haverá, sim, elevação das despesas e, de forma significativa, como se vê em Estância Velha, nesses municípios.
O sofisma, a falácia, é um exercício que faz parte da política, infelizmente, mas o deputado Pompeo de Mattos, poderia exercitar a verdade e dizer apenas que mais vereadores, significam mais “cabos eleitorais” de deputados e senadores. Seria um gesto corajoso, digno de um representante do povo. Mas isso já não faz mais parte da grande maioria dos homens públicos eleitos pelo voto do povo: dignificar o voto que recebem.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

O Brasil em armas

O anúncio do presidente Lula de que o Brasil comprará aviões e até submarinos da França, infelizmente, demonstra que não conseguimos crescer além do nosso fado que é de sermos uma eterna republiqueta de bananas. Investir R$ 30 bilhões em armas para quê? Para nos defendermos de quê? Virão atrás do nosso petróleo os americanos? Ou, num futuro não distante, virão precisaremos de armas para defender a água que os próprios brasileiros não cuidam? Se qualquer nação do primeiro mundo decidir invadir o Brasil resistiríamos tanto quanto resistem os afegãos ou os iraquianos? Nós que não temos uma cultura de enfrentamento? Improvável.
Posto isso, pergunto ainda: quantas escolas de altíssimo nível, quanto de salários dignos poderiam ser pagos aos professores se estes recursos fossem investidos na educação? Foi esta a opção do Japão pós-guerra e também da Coréia. O que são estes países hoje?
Sempre votei em Lula - a exceção do primeiro turno naquela eleição que o Brizola concorreu e o Collor ganhou - e, ainda acredito que fiz a escolha certa. Porém, fico triste de observar que ele não consegue se desvencilhar de sua origem terceiro mundista. É certo, há investimentos em educação como não se via no país em décadas inclusive, com novas universidades e escolas técnicas federais, mas precisamos muito, muito mais do que isso para recuperar o tempo perdido. Que ações podem, por exemplo, os estados fazerem com isso? Os municípios?
Temos um país mergulhando em violência, em corrupção, uma classe política do pior naipe do mundo. Precisamos de um povo mais instruído para ser menos enganado, para dar mais qualidade ao país. Podemos esperar outros políticos e dirigentes de uma nação de milhões de analfabetos funcionais? O futuro não esta lá, distante, está aqui, no que se faz agora. É um discursos velho, repetitivo, falar de educação, mas quando o governo vais às armas, temos a impressão que nunca sairemos do discurso.
Lamento profundamente a atitude do governo em acarinhar a França e esquecer os brasileiros. Argumentos que giram em torno de questões de caráter geopolítico não me convencem. Até suporto, tolero os arranjos que Lula faz com personagens tipo Sarney, Calheiros e o repugnante Collor, mas atitudes da sua política externa e ainda estes arranjos internos é demais!!! As armas do Brasil para se defender no futuro são escolas de qualidade que construir hoje.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Crônica de um tempo distante

 Crônica de um tempo distante


 Daniel Ribeiro

 Há alguns dias, por descuido, deixei cair a minha carteira contendo pequena quantia em dinheiro e meus documentos de identificação. Perdia-a na rua. Uma hora depois uma pessoa procurava, no local onde eu estava, pelo dono de uma carteira. Foi quando notei que estava sem a minha. Prontamente, entregou-me a carteira identificando-me com os documentos. A pessoa – um homem dos seus 30 e poucos anos - disse que a encontrara da rua em frente.

Recuperar a carteira foi uma alegria. Os documentos estavam intactos, mas o dinheiro não estava junto. Agradeci a pessoa e pedi desculpa por não poder recompensá-la financeiramente pois não tinha dinheiro. Nem pensei que o mesmo pudesse ter ficando com o dinheiro e, certamente, não ficou senão não procuraria pelo dono da carteira. Ele agradeceu dizendo apenas: “Nem precisa, já me basta ter encontrado o dono.”

O fato me fez lembrar um episódio que ocorreu na infância. Uma das lições que meu pai me deixou na sua rápida passagem nesta terra. Ele faleceu um mês antes de eu completar nove anos. Foi no último ano de sua vida.

Meu pai não me ensinou a soltar pandorgas, isso eu aprendi na escola, no pré-primário, com minha primeira professora (hoje em dia nem espaço mais há nas cidades para isso e nem professores ensinam a fazer, quando mais soltar uma pandorga). Apesar de nunca ter soltado pandorga comigo,  meu pai orientou-me para o que é o certo e o que não é certo, o que é errado. Também sobre o respeito e a educação com que se deve tratar os outros, mesmo que discordem da gente. “Ninguém tem sempre toda a razão”, repetia. Isso tudo aprendi em lições como esta que aqui relembro e relato.

O fato.

Certo dia – no período de início das aulas, em março, quando eu cursava a segunda série, no horário da tarde – na volta da escola (distante cerca de quatro quilômetros), quando já me aproximava da minha casa, ao passar na rua em frente ao armazém de “secos e molhados” (assim eram chamados os mercados de bairro, na época) do seu “Ferrari”, percebi um pequeno volume no chão da rua. A rua (denominada de Santa Maria, na Vila Sulina em Santa Rosa - minha casa ficava na quadra acima, na rua Triunfo) ainda não tinha pavimentação. Agachei-me e apanhei o volume. Era um pequeno maço contendo algumas notas cuja estampa, tinham as figuras de Santos Dumont e do Tiradentes (não lembro de que valor se tratava e, pouco importa, de lá para cá a moeda nacional já mudou quase uma dezena de vezes). Olhei ao redor e não percebi ninguém por muito perto na rua naquele momento. Coloquei o maço dentro da minha pasta de pano com os cadernos e apetrechos da escola. Corri para casa.

Mamãe ao me ver entrando porta a dentro alvoroçado, espantou-se:

- O que foi, meu filho? Não precisa vir correndo, chega suado, repreendeu-me. – Isso ela ponderava sempre e completava: - Mas também não venha passeando pela rua.

Eu tirei da “pasta” o maço de notas

- Olha, mãe! O que eu achei na rua. Ela olhou espantada. Pegou o dinheiro da minha mão.

- O que é isso? Tu achou? Na rua?

- Sim, mãe – respondi. Quase em frente ao armazém do seu “Ferrari”. “Tava” próximo da valeta. – Expliquei. – Podemos ficar com ele? – Inquiri, ansioso.

- Vamos falar com o teu pai. Este dinheiro não é nosso. Tu não viu ninguém por perto que possa tê-lo perdido? Ninguém andando na rua, procurando algo?

- Não. Não vi ninguém por perto. – afirmei.

Mamãe foi até a janela da cozinha e avisou meu pai:

- João, vem até aqui, o mate tá pronto e, teu filho tem uma coisa para te mostrar.

Papai estava capinando nos fundos do terreno onde cultivávamos uma pequena plantação de mandioca, um eito de cana-de-açúçar que servia como cerca-viva delimitando o nosso terreno do do vizinho, batatas-doce e, - lembro ainda -, uns quatro ou cinco pés-de-pêssegos. Ele fazia isso depois que chegava do trabalho quando sobrava um tempo já que trabalhava numa estofaria. Nos últimos dois anos papai esteve muito doente. Meu irmão mais novo estava com ele. Mamãe estava grávida, esperando o terceiro filho (que seria filha) da família.

Logo ouvi papai, limpando-se no tanque de lavar roupa que ficava no lado de fora da “casinha” onde funcionava também um depósito e a lavanderia. Subiu os poucos degraus da escada do pequeno “puxado” ao lado da porta da cozinha. Meu irmão veio atrás.

- O que foi? – Perguntou, curioso.

- Conta para ele, filho. – Instigou minha mãe.

Eu fiz o mesmo relato. Peguei o dinheiro que deixará em cima da mesa e mostrei esperando que ele o pegasse para certificar-se da quantia. Papai apenas olhou para o que eu tinha nas mãos. O que ele me disse foi como um “laçasso” de vara de guaxuma – das raras vezes que ele aplicou em mim “um corretivo para lembrar que as coisas erradas doem”:

- Vai lá e devolve o dinheiro. - Ordenou.

Fiquei atônito. Devolver? Olhei para minha mãe. Ela pareceu não compreender também.

- Por que, pai? Eu achei. “Tava” no chão. Se eu não pegasse outro pegaria. Para quem devolver, nem sei quem é o dono? - Tentei argumentar.

- É. O guri teve sorte. Não é dinheiro roubado. É achado. Não se sabe o dono. - Disse mamãe, vindo em meu auxílio.

- Filho meu não tem sorte. – Sentenciou papai. – O dinheiro não é dele, não é nosso. Ele não trabalhou para ganhá-lo. Não o mereceu. Alguém perdeu. Alguém deve estar procurando. Deve estar fazendo falta para alguém. Se achou ali, próximo ao armazém do “seu” Ferrari, pode ser de alguém que foi fazer uma compra lá. Então, vai lá e devolve. Deixa o dinheiro como o “seu” Ferrari, ele é capaz de lembrar de quem possa ser ou alguém vir procurar no armazém dele. Ele faça o que achar certo para ele. O que é certo para nós é que o dinheiro não é nosso. Leva lá, agora.

Não retruquei. Minha mãe só olhou para mim fazendo um gesto de assentimento com a cabeça. Fui correndo até o armazém do “seu” Ferrari. Lembro dele e de sua mulher, dona Astra. Sempre solícitos. Vendiam fiado apontando na caderneta. “Seu” Ferrari tinha cabelos completamente brancos. Quando cheguei ao balcão ele veio atender-me:

- Diga, guri.

- “Seu” Ferrari, encontrei este dinheiro ali na rua, quase aqui na frente. Meu pai mandou entregar ao senhor para que devolvesse ao dono.

Surpreso, ele pegou a quantia que depositei no balcão.

- Teu pai mandou fazer isso? Mas quem é o dono? – Perguntou, incrédulo.

- Não sei. O pai disse que o senhor saberia de quem pode ser ou se alguém vier aqui procurar.

Quando voltei para casa, papai e mamãe tomavam mate.

- O que ele disse? – Mamãe quis saber.

- Ele perguntou se o pai tinha mandado fazer isso e também quis saber quem era o dono. – Respondi. E emendei: Eu disse que o senhor havia dito que ele saberia descobrir o dono.

Sorvendo o mate, sentado na “área” do “puxado” da nossa casa, papai fez um breve e definitivo discurso:

- Meu filho, vou de dizer uma coisa, nunca esqueça: sorte não existe. O que existe é trabalho, honradez, decência, honestidade. Jamais espere pela sorte. Tu pode conseguir muita coisa, pode até precisar dos outros e pode ser que não te ajudem, mas nunca fique com o que não é teu, não fique com o que tu não ganhou por teu trabalho, mérito. Sabe o que é isso?

Fiz um gesto negativo com a cabeça.

Ele arrematou:

– Isso quer dizer: seja sempre honesto e terás uma vida melhor não importa se for um homem humilde, pobre ou mesmo rico. Seja sempre um homem decente.

A história aqui, ganhou alguns adereços. Mas a essência que aprendi desta lição foi esta: sorte não existe, a vida é feita de trabalho, respeito pelos outros, pelo que é dos outros. Papai viveu pouco. Era analfabeto, assim como minha mãe. Morreu naquele mesmo ano, no dia 04 de outubro de 1969, dia de São Francisco de Assis, aos 33 anos. Eu tinha oito anos, quase nove anos, meu irmão três anos e minha irmã, seis meses. Mamãe ficou viúva aos 28 anos. Foi ela quem me trouxe de volta à lembrança este episódio, vários anos depois. Hoje ela também já não esta mais com a gente.

Quem descobriu minha carteira no chão, a recolheu, observou o conteúdo, pegou o dinheiro e jogou-a de volta no chão sem se importar de quem era, não agiu errado. Agiu apenas da forma como lhe ensinaram e os exemplos que recebeu em casa ou na vida se, para tanto, os pais não lhe ensinaram a lição correta.

Hoje, cada vez mais pais relegam tudo à escola, aos outros, a educação, o exemplo, que os filhos procuram neles. Sob o pretexto de que precisam trabalhar para prover a família, deixam os filhos a mercê da rua, da TV, da internet. Elementos básicos da formação do caráter e da personalidade são atribuídos a estranhos. É certo também que, muito embora, hajam pais se esforcem para educar os filhos em conceitos e preceitos morais de honestidade, de trabalho, de respeito, alguns filhos podem acabar decepcionando os pais. Diz-se que isso é da vida. Mas os pais amargam a frustração com o erro dos filhos como se fossem seus próprios erros. E, os filhos que erram ou não dão valor a honestidade, ao respeito, terão também filhos que dificilmente agirão de outra forma do que aquela que o exemplo dos pais lhes forneceu. Filhos não são apenas resultado da nossa carga genética, são também resultado da imagem de mundo e vida que impregnamos na mente e no caráter deles. Definitivamente, se queremos um mundo melhor temos que transmitir, com o exemplo nosso, o mundo melhor que queremos. Afinal, inexoravelmente, uma fruta jamais cai longe do pé que a gerou.  Isso em se tratando de uma fruta, mas nós, seremos humanos, temos opções. Nunca deixaremos, como a fruta, de ser resultado daquela árvore, mas  diferente da fruta, podemos optar por não repetir a árvore, embora isso não seja algo fácil e natural.
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