
Peguei o animal pelo rabo e cruzei a via de volta. Alguns carros passaram por mim e, por certo, os condutores olharam admirados a cena estranha de um homem carregando um bicho pelo rabo. Quem conhecia identificou que era um tatú. Devem ter pensado: "Olhe só, o cara atropelou um tatu e agora esta vai levá-lo para o café da manhã". Dizem que a carne de tatú é apetitosa. Nunca experimentei. Coloquei o bicho no porta-malas e rumei para o trabalho. Sou professor, meu trabalho é na escola. Achei que o inusitado fato e o bicho, quase raro, poderiam servir para um aprendizado pedagógico.
Cheguei na escola, na hora em que a sineta soava pela primeira vez. Estacionei o carro. Retirei o tatú, morto, do porta-malas. A cena chamou a atenção de alguns alunos que chegavam no mesmo momento. Alguns acorreram na minha direção, curiosos. Os garotos fazendo perguntas. Algumas meninas fugiram com ar de nojo. Questionaram-me como eu havia conseguido aquele animal. Contei a história. Depois, deixei o bicho deitado sobre um jornal e fui para a sala. Lá mais perguntas. Ao final de várias explicações e algumas observações sobre o valor e sabor da carne de tatu, um aluno pediu para levá-lo. "Meu pai poderia usar o casco, principalmente, para fazer cabo de faca e preparar ele como comida", assegurou. Ascendi que sim. Mas observei que transportar um animal selvagem ainda mais morto, poderia implicar em situação de suspeita de crime ambiental, caso fosse parado por alguma autoridade policial. Ao final das aulas do turno da manhã, o aluno levou o bicho para casa. Espero noticias do que resultou do mesmo.
Contada a história resta a constatação de que o clima talvez tenha favorecido ao triste destino do tatú que, pelo que pesquisei, deve ser da familia Tolypeutes tricinctus, o dito tatú-bola. Pelo que consta é o menor tatu brasileiro, o único tatu endêmico, isto é, que existe apenas no nosso Brasil. É o mais ameaçado, porque, como não cava bem como os outros tatus, é mais fácil de ser caçado. Este, pelo visto sobreviveu em plena área urbana. Não sei por quanto tempo, mas, ao final, foi vitima daquilo que mais mata Brasil a fora: o trânsito.
* Foto do bicho, inevitavelmente, atropelado e morto.
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