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segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Verdade paradoxal

Quando iniciei minha militância politico partidária efetiva (antes apenas nutria simpatias por partidos que se apresentavam com alternativa ao status quo vigente), um professor que até me instigou a isso, me alertou: "Politica partidária é um ambiente, um espaço, sujo, putrefato, fedorento, não importa quão limpo tu seja, ficarás impregnado do cheiro que dali exala".   Queria dizer que, assim como o cheiro, o fedor de um chiqueiro de porcos impregna a roupa e até a pele da gente, independente de você estar sujo ou não, assim quem adentra na politica partidária ficará impregnado do que ali ocorre.   Uso esta metáfora do chiqueiro de porcos porque justamente, acabei algum tempo depois trabalhando num frigorifico, no setor de custos.  Por oficio, todos os dias eu tinha que ir até o chiqueirão onde ficam os bichos antes de irem para o abate, colher informações. Ao sair daquele ambiente, sentia em mim o cheiro, o fedor que impregnava aquele ambiente, por mais que permanecesse ali menos de duas horas todas as manhãs e, também, não me aventurasse em meio aos animais.

Lembro também de uma observação, uma lição, que me foi oferecida gratuitamente, por uma pessoa, um servidor público, no primeiro cargo que exerci, com algum status e poder: Secretário Municipal de Planejamento e Administração (depois trabalhei em outras cargos tambem de alguma relavância a nivel municipal e mesmo do estado, sempre convidado).  Este servidor concursado, era secretario da Fazenda daquele municipío, creio que pelo quarto ou quinto mandato consecutivo com, pelo menos, prefeitos de três partidos diferentes.  De forma que não era alçado ao cargo por conveniência e simpatia politica, mas por qualificação, competência e honradez.   Disse-me ele, quando assumi o cargo e o conheci, como colega de gestão: "Agora que tomastes posse como servidor público, ainda mais de cargo em comissão, ver-te-ão como vagabundo, corrupto e marajá".  Isso foi lá naquele tempo do "caçador de marajás", onde tal adjetivo estava em voga para indentificar quem, no serviço público, pouco trabalhava e muito ganhava. Na verdade não é de hoje que quem assume um cargo público, seja ele pelo voto ou pelo concurso, não lhe seja impingido tal estigma.

Estas observações servem a reflexão de quem, diante do quadro politico-eleitoral que se avizinha, ingressou neste ou naquele partido, pensando ou instigado por outros, a colocar-se na estrada como candidato a vereador ou prefeito. Quanto mais bem intencionado e honrado for o candidato, maior será o sofrimento.  Ser candidato é um ato de coragem para as pessoas de bem.  Mas é uma atitude que ou lapida ou destrói o seu caráter.  Tudo depende do quanto sólido ele seja.

 Recentemente, um vereador de uma cidade do interior do estado, buscando justificar o sem número de diárias que havia tirado, disse que não vê nisso mal pois se consegue nas viagens de cursos e "para buscar recursos" fazer sobrar algum dinheiro, o usa em beneficio do povo.   Segundo ele o "povo suga" a vitalidade e, por certo, mais do que isso dos politicos que elege. Tal afirmação não justifica o mal uso dos recursos publicos seja da forma que for.  E a propósito disso, há alguém que esteja pensando em ser candidato em o ser apenas pelo prazer do status e pelo prazer de servir a comunidade?  Nunca, em nenhum momento, passou pela sua cabeça, ao se lançar candidato, a remuneração e outras benesses, criadas pelos que  te antecederam no cargo, em beneficio próprio?  Dificil esta resposta.  Mas quem conseguir respondê-la poderá dizer que tem um caráter forjado na mais alta temperatura e não conveccionado em forjas paraguaias de fundo de quintal.

Ao adentrarmos no espaço da politica-partidária, entramos numa arena onde a ética, a honestidade, a honra, se já  não são cadáveres insepultos em decomposição, sofrem de terrivel gangrena. E tal é fedor que exalam que impregnará mesmo aqueles de caráter mais limpido.  A questão é: como manter-se limpo, embora exalando o mau cheiro do ambiente por onde se vê obrigado a circular?  Mesmo que alguém possa dizer com plena convicção: "eu posso", isso não significa que será o eleito.  Fosse assim, certamente, não teríamos muitos dos políticos que temos. É uma triste verdade. Paradoxalmente, o mesmo povo que se indigna é aquele que também vota e vai para casa, alienar-se de todos os seus deveres e queimar incenso no altar dos seus direitos.
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