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domingo, 20 de junho de 2010

Relato de um acidente

No sábado, dia 19, praticamente, presenciei um acidente absurdo e terrível. Voltando pela rodovia BR 290, há cerca de 30 km de Caçapava do Sul em direção a BR 390 e dali para Santa Maria, por coisa de 15 segundos talvez, não assisti a batida entre um Fiat Fiesta, de Santa Cruz do Sul, que transitava na direção de Porto Alegre e um caminhão mercedes de Santa Maria que seguia na direção de Santana do Livramento. A batida foi praticamente frontal. O Fiesta invadiu a pista onde descia o caminhão (era um aclive levemente acentuado na direção ao cruzamento com BR 390) e chocou-se diretamente contra a roda dianteira deste, quebrando o eixo. Com o impacto o automóvel rodou sobre si mesmo parou no acostamento da rodovia no sentido contrário ao seu trajeto original. O caminhão tombou e caiu no barranco no mesmo sentido que já estava.

Ao depararmo-nos com a cena, imediatamente, estacionamos no acostamento e logo em seguida outro automóvel. Enquanto saímos do carro, notamos que dois homens saiam pela janela da cabine do caminhão tombado. Ambos responderam que eram só eles e estavam bem.

Quando acudimos ao Fiesta notamos um homem e uma mulher, na faixa dos 30 anos estavam nos bancos da frente. O motorista do carro, prensado entre as ferragens, sangrando muito. A mulher estava consciente e não parecia tão machucada mas não conseguir sair do veiculo pois também estava prensada. No banco de trás notamos, então, uma mulher mais jovem estava caída um pouco para fora do carro entre os bancos. Aproximamo-nos e notamos que a jovem, respirava, estava apenas desacordada. O homem também, embora parecesse bastante machucado, respirava. A mulher sentada ao lado do motorista estava consciente mas em estado de choque.

Aos poucos outros veículos foram parando. Todos sacando dos seus celulares e buscando contato com os serviços de emergência e bombeiros. De imediato veio também a preocupação com o transito. Colhemos alguns galhos de arbustos e corremos uns 50 metros acima, no final do aclive para sinalizar a estrada. Espalhando arbustos pela pista já era um sinal de alerta para alguma coisa no trecho.

Do ponto do acidente, a localidade mais próxima era uma pequena cidade, Vila Nova do Sul a uns 20km, onde estivéramos naquele dia e de lá sabíamos que mal dispunha de uma unidade de saúde e uma ambulância. A outra localidade, esta maior, era a cidade de Caçapava do Sul, distante uns 30km. Já São Sepé, fica a outros 40km. Com as vitimas prensadas e sem nenhum equipamento que permitisse removê-las de forma segura, passamos a orientar as pessoas que chegavam para não tentar nenhuma ação a não ser confortar os feridos que já tinham voltado a consciência. Pelas vitimas restava apenas pedir para que não se movessem e esperassem o socorro. Uma situação terrível e dolorosa. O homem, sagrava a cabeça e o rosto, gemente de dor.

As pessoas chegavam e não tinham nada a fazer. Remover impossível. Mesmo removendo transportar como, sem incorrer em um mal físico maior ao acidentado? Resultado: impotência total. A ansiedade aumenta sabendo-se que o socorro esta distante. O que se pode fazer numa hora dessas? Apenas palavras de conforto e orientação aos acidentados, no mais impotência, ansiedade, apreensão.

Passados, exatamente, 30 minutos desde que estacionamos no acostamento, nos segundos seguintes ao acidente, chega um veiculo da Policia Rodoviária Federal com um policial ao volante. Ele constata a situação e passa algumas orientações as pessoas que estavam próximas. Dois minutos depois chega outro policial dirigindo uma ambulância. Nenhum outro profissional de saúde com ele. Em seguida, chega um policial da Brigada da cidade mais próxima, Vila Nova do Sul. Os três começam a discutir a remoção das vitimas. Há dificuldade. As pessoas que chegaram querem ajudar, mas não tem como fazer muito. Todos observam a tentativa dos policiais de remover a vitima do banco de trás, a garota. Neste momento, já com muitas pessoas próximas e os policiais pedindo espaço, retiramo-nos. Pouco havia que se pudesse fazer a não ser torcer para que logo chegasse outra ambulância com pessoal técnico para fazer o socorro. Era visto que seria preciso ferramentas para abrir a lataria do veículo para remover as duas vitimas que estavam na parte dianteira do veículo.

Decidi que deveríamos afastar-nos, retomando a estrada em direção a Santa Maria. Não havia mais nada, ao nosso alcance, a fazer. No caminho para Santa Maria, encontramos um carro de bombeiros vindo de Caçapava do Sul. Carro velho, apenas com um motorista. Mais adiante, alguns minutos depois, agora já na BR 390, deparamo-nos com outro caminhão de bombeiros vindo de São Sepé, também apenas com o motorista e aparentando precariedade. Logo em seguida passou por nós uma ambulância também decadente, observei apenas um motorista ao volante.

A referência mais próxima do local do acidente era o hospital universitário de Santa Maria, que dista uns 80km de onde ocorreu o fato. Em Santa Maria ouvimos depois o noticiário de que haviam dado entrada no hospital por volta das 16 horas as três vitimas do acidente. Hoje, soube que as duas mulheres continuavam internadas, sem risco de morte com perspectiva de alta. Já o motorista do Fiesta esta no Centro de Tratamento Intensivo (CTI) do hospital em estado grave.
Acidentes existem todos os dias. Infelizmente, o trânsito no estado e no Brasil, mata mais, por ano, do que os conflitos bélicos pelo mundo afora. Além do sofrimento, um imenso custo econômico, ainda mais quando se nota que a maioria das vidas perdidas são de jovens com ainda muito a produzir. A mortandade que se vê nas nossas estradas tem muitas explicações mas vê-se de parte do Estado, dos governos, apenas atitudes campanhistas que querem ser educativas. Educação não se faz com campanhas com duração limitada. É preciso mudar uma cultura. O país perde demais com os acidentes de trânsito. Numa sociedade que se quer cada vez mais veloz, com todos correndo atrás de tudo, onde o status é mais veloz, onde as estradas são ruins, quando não pessimamente sinalizadas; onde a estrutura de apoio é precária, onde a rede de atendimento as vitimas de acidentes não cresce na mesma velocidade que crescem o número de veículos circulando, é de se esperar que o que presenciei de perto, não cessará tão cedo.

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