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quarta-feira, 20 de junho de 2012

Sobre pragmatismo politico em tempos de eleições

Sou filiado no PT. Já fui mais militante. Antes de filiar-me ao PT, até 1993 fui filiado ao PDT. Lembro que em 1986, aqui no Rio Grande do Sul, os pedetistas tiveram  que “engolir” uma “aliança estratégica” na eleição para o governo do estado. A coligação PDT-PDS (Aldo Pinto-Telmo Kirst), desceu mal pela garganta tanto de pedetistas como dos apenas brizolistas. Mas, tudo bem, o objetivo era Brizola presidente. E ele o que mais foi combatido por aqueles que agora se propunha a coligar estava disposto a isso, então parecia algo necessário ao momento, em vista da primeira eleição para presidente da República que ocorreria logo a frente. O resultado, no entanto, foi que a militância pedetista de um modo geral empenhou-se sem entusiasmo na campanha que redundou na eleição de Pedro Simon (PMDB) e, no fracasso da alição PDT-PDS.
De qualquer forma, o eleitorado gaúcho não “foi de Aldo”, naquela eleição. Simon ganhou e depois nem concluiu o mandato optando por candidatar-se ao Senado, onde os mesmos que votaram nele para governador o levaram e onde ele está já um quarto de século. Brizola, na eleição para presidente recebeu uma votação acachapante no Rio Grande do Sul, mas insuficiente para suplantar a de Lula no resto do país, principalmente, no nordeste. No segundo turno da eleição presidencial, no RS, brizolistas “engoliram o sapo barbudo”, como Brizola justificou o apoio e adesão a campanha de Lula, no segundo turno, e foram todos de Lula. Aliás, a metáfora de Brizola ao se referir a Lula, não era invenção nova considerando a eleição de 1986. No Rio Grande, então, os pedetistas e brizolistas já tinha a garganta preparada para engolir sapos impostos pelo seu líder maior.

Em Três Passos, onde morava, nem mesmo o fato de Fernando Collor ter estado lá, carregado nos ombros pelos dois caciques locais na época o deputado federal Osvaldo Bender (PDS) e o deputado federal Hilário Braun (PMDB), conseguiu mudar o que ja se desenhava, a quase totalidade dos votos em Brizola, no município, migrou para Lula. Infelizmente, isso não se verificou no resto do pais e Collor foi eleito e o resto da história ainda é escrita no Congresso onde o ex-presidente cassado pelo clamor popular, é hoje senador eleito democraticamente por Alagoas e faz parte da base aliada do governo Dilma, do PT.

Lula, perdeu em 1989, concorreu de novo em 1994 e em 1998, de novo, desta vez tendo Brizola como vice. Lula tentou uma outra vez em 2002 e, finalmente, chegou a Presidência. Finalmente, poder-se-ia dizer um representante da “classe trabalhadora” fora eleito por esta mesma classe trabalhadora para comandar o país. Porém, numa Republica Democrática o exercício do Poder Executivo não acontece sem a anuência do Poder Legislativo. De pronto ou se “costura” para a eleição um ampla aliança com partidos de maior proximidade ideológico-programática ou depois que busca isso com aqueles partidos que o eleitorado concedeu assento através dos seus deputados e senadores eleitos, no Congresso Nacional.

Já na quarta tentativa para chegar a presidência da Republica o PT e Lula, mostraram-se menos firmes em relação a busca de alianças com partidos centrados apenas em convicções programático-ideológicas. Eleito, o PT capitaneado por Lula, passou a agir com pragmatismo. No Congresso não tomou conhecimento a cerca do perfil programático dos partidos e menos ainda do caráter e interesse daqueles que compunham os mesmos. Disso resultou que o governo atravessou o primeiro mandato entre turbulências que não o impediram de impor uma marca que diferenciou do governo anterior, muito embora, não tenha renunciado ou abandonado algumas diretrizes construídas por aquele, principalmente, em relação a economia. O diferencial mesmo foi na área social. Ao final desse mandato, numa nova aliança pragmática, Lula e o PT, colheram a reeleição. O projeto de poder e governo se consolidava e o pais mesmo, as vezes, vacilando transformou-se. Tanto foi assim que, Lula impôs ao PT, uma candidata sem um histórico militante significativo no partido e também dita de pouco carisma. E, mais, construiu nova aliança, desta vez com o sempre parasitário PMDB. No embate com o projeto de poder que remetia ao governo anterior ao do PT/Lula, venceu o projeto já em andamento, com a eleição da primeira mulher presidenta do Brasil.

Há muito anos atrás ouvi um político, num discurso quando da entrada de novos filiados no seu partido dizer o seguinte: “Nosso partido é como um caminhão que segue por uma estrada, acolhemos e damos carona para quem quiser, pois todos podem nos ajudar a superar as dificuldades da estrada e a chegar onde queremos, porém, a direção da condução será sempre nossa.”. Ou seja, a carroceria é grande o suficiente para acolher a todos os matizes, mas a cabine é para quem domina a direção do veículo. Poder-se-ia dizer que os fins justificam as parcerias que se busca para chegar até eles? De um certo modo, os arranjos – muito mais lulista do que petistas – tem servido até agora. Mas isso se pode até dizer em relação a partidos. Porém, algumas dessas alianças pragmáticas trazem consigo figuras que, em certa conta, historicamente, arrastam consigo pechas que, desqualificam ou colocam em suspeição qualquer objetivo que se tenha e que se queira justificar com tais alianças.

Para conquistar a prefeitura de São Paulo, Lula impôs ao PT, um candidato seu. Alguém assim como Dilma, sem o necessário – para os padrões políticos brasileiro – carisma e história dentro do partido. Agora para instar o seu candidato a levantar vôo, rubrica uma aliança com o Partido Progressista (PP). As origens desse partido nem precisam ser comentadas. Hoje, na capital paulista ele esta sob o comando de Paulo Maluf, político por demais conhecido do noticiário político e policial, embora – graças aos manejos legais – responda a inúmeros processos por corrupção, porém, sem ter, ainda nenhuma sentença condenatória visto que navega com desenvoltura e conhecimento no barco que utiliza os infindáveis recursos protelatórios dos códigos processual e penal brasileiro. Não fosse a proeminência de Maluf sobre o PP paulista, diante do conceito pragmático que Lula vem impondo ao PT, se digeriria tal aliança. Até por que, em Porto Alegre, a senadora Ana Amélia Lemos (PP), considerando o ideário pepista, defendeu - mas foi derrotada pelo seu próprio partido -, uma aliança muito mais esdrúxula, esta com o PCdoB, tendo em vista agora a prefeitura da capital e, na próxima eleição, sua ambicionada candidatura própria ao governo do estado.   Aliás, partido este, o PCdoB, que também vem seguindo a liga do pragmatismo explicito do PT, porém, muito mais buscando a sobrevivência do que algum propósito de governo com a sua verve político-programática.

Em política, como se vê, ao norte ou ao sul, ao leste ou a oeste, num regime democrático, tudo é possível, embora, às vezes, se custe a compreender. A nível municipal, em se tratando de arranjos, alianças, coligações com propósitos eleitorais, também não foge disso. É certo que no âmbito do município, o verniz ideológico inexiste de um modo geral. O programa partidário é apenas para o papel. E este, é pouco o nada conhecido pelos militantes e mesmo dirigentes partidários a fundo, senão na sua superfície. Assim, nas eleições municipais são bem mais aceitáveis, em vista das disputas paroquiais de grupos ou em vista de quizilas pessoais, alianças entre partidos de fundamentos divergentes na sua essência. Não havendo impasses pessoais, lideres partidários e partidos até ontem adversários logo podem compor uma aliança com o fim específico de defenestrar do gabinete do Executivo o desafeto lá instalado.  E, na onda disso, ainda, eleger uma bancada no Legislativo que possa servir a uma certa referência de distanciamento político-ideológico. Mas isso também é muito relativo.


Lula, Haddad, candidato a prefeito pelo PT em São Paulo
e Paulo Maluf, presidente do PP paulista.
 De qualquer forma, todo este arrazoado, não amaina o fato de ver-se, Lula e o PT, em São Paulo, abraçados, não apenas com o PP mas com o símbolo maior de tudo aquilo que se fala mal da política no país. Enfim, até onde se pode construir alianças com partidos – que são a essência da democracia, posto que representam a não unanimidade ideológica e política – mas que carregam ou são dominados por figuras como Paulo Maluf e, mesmo, seus congêneres espalhados pelos pais no mesmo ou em outros partidos? Não há como duvidar da idoneidade do partido, mas é possível manter-se invulnerável as práticas que personagens que os lideram representam ou representaram na política? De certo, eu preferiria não ver uma foto como esta que circula pelo noticiário do país e que dói em minhas convicções.  Porém, aqui em Estância Velha, uma tal aliança com um PP, cujos integrantes estão muito distantes desse que cumprimenta Lula na foto, seria bem mais digerivel.  Lembro que em Sapiranga, o prefeito é do PT e o vice do PSDB.  Tal situação que lá se construiu em Estância Velha, hoje é algo impensável, mas no futuro... ah, a politica.

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