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quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Um pouco de poesia


O Próprio Ser Eu Canto - (Walt Whitmann)

O próprio ser eu canto:
Canto a pessoa em si, em separado
- embora use a palavra Democracia
e a expressão Massa.

Eu canto o Corpo
Da cabeça aos pés:
Nem só o cérebro
Nem só a fisionomia
Tem valor para a Musa
- digo que a forma completa é muito mais valiosa, e tanto a
Fêmea quanto o Macho
eu canto.

A vida plena de paixão,
Força e pulsar,
Preparada para as ações mais livres
Com suas leis divinas
_O Homem Moderno
eu canto.

domingo, 20 de dezembro de 2009

2009 vai como chegou


Quando iniciou 2009 vínhamos de um 2008 que começou bem e terminou tenebroso. Estávamos as voltas com a insegurança decorrente da crise que se abateu sobre as bolsas de valores e grande conglomerados americanos. Era o prenuncio de um tsunâmi. Tudo parecia estar preste a ruir. “Especialistas” falavam de “um novo tempo” na economia mundial. A onda de desemprego que se disseminou no mundo a partir do crash do sistema financeiro, principalmente, imobiliário do EUA, assustou. No Brasil, o presidente Lula, ironizou com sua auto-confiança contumaz: “aqui esta onda vai chegar como uma marolinha”. Neoliberais, “especialistas”(novamente), oposição, caíram de pau.

Chegamos, então, ao final de 2009, assustados com temporais, tornados, tufões, enchentes, mais do que com o futuro da economia do planeta. O crescimento do Brasil, arrefeceu. O Produto Interno Bruto (PIB), relativo ao ano de 2009 não deve ultrapassar mais do que uma unidade do dígito percentual. Ou seja, o crescimento da economia que, no ultimo e primeiro ano do mandato de Lula, quase alcançou 5%, não chegou a ser negativo mas arrefeceu a ascendência vagarosa mas consistente. De fato, a onda da crise não chegou no país como uma “marolinha” mas como uma marola consistente. Cobriu toda a areia da praia mas não alcançou o calçadão da avenida de beira-mar.

No campo social e político, a rotina, a policia desbaratando quadrilhas dos mais diversos calibres. Especificamente, na área política os escândalos e roubalheiras contumazes. Sonegadores, golpistas e corruptos de todos os naipes proliferam por todos os rincões do país. Não há neste campo novidade e, pelo que se vê, na população muito pouco espaço para a indignação, até por que, acredito que todos estejam apenas esperando a oportunidade para fazer a mesma coisa que se critica nos outros. Afinal, de um povo que acha que o público não tem dono e que não vê como imoral a lógica do “levar vantagem em tudo”, é de se esperar o que?

Na política, aquela de fato, 2009, consolidou a (mesmo não oficialmente) a ministra Dilma Roussef (PT), como candidata incensada de Lula para a sua sucessão. O potencial adversário é o ex-ministro da Saúde e atual governador de São Paulo, José Serra (PSDB). Isso no campo federal. A nível estadual, a governadora Yeda PSDB(, termina o ano como começou, tentando fazer a população acreditar que o seu governo viabilizou o Rio Grande. O ministro da Justiça, Tarso Genro (PT) será mesmo o candidato ao governo pelo PT e o prefeito José Fogaça (PMDB), vai abandonar a prefeitura de Porto Alegre, para confrontar Tarso. Yeda, pode concorrer a reeleição, porém, depois de um mandato tão caótico deve ser apenas para “morrer em pé”, politicamente falando.

Por fim, nesta rápida observação sobre os fatos de 2009, terminamos o ano com a Conferencia Mundial sobre Meio Ambiente, realizada em Copenhague, Dinamarca, que decidiu não decidir a respeito das responsabilidades e atitudes a cerca dos eventos climáticos que perturbam o planeta. Grande parte disso decorre da poluição, da devastação do ambiente natural. Os lideres mundiais discutiram uma semana e não chegaram a nenhum consenso suficiente. Talvez tenha calculado que tudo é fato relacionado ao processo natural de surgimento e desaparecimento das coisas. Julgam que o processo é irreversível, então, os ricos continuaram vivendo nababescamente e os pobres com as sobras das sobras. Resta a nós, cidadãos com alguma consciência disso, fazer a nossa minúscula parte, reduzindo a poluição e o prejuízo ao ambiente que nos cerca. Se muitos, milhões fizerem isso, talvez, tenham, os nossos netos, um futuro, pelo menos igual ao nosso presente.

Nada é muito quando muitos agem na mesma direção. A todos os leitores os votos de que cada um faça bem a sua parte na construção de uma ética tanto política, quando social e ambiental. Ou seja, seguindo em 2010, um principio básico e simples: “faça aos outros, ao mundo, o que gostaria que fizessem para você mesmo”.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

"Grande lance político" da Câmara de Estância Velha


A Câmara de Vereadores, que não produz nenhuma receita para o municipio, (na peça orçamentária consta de Receita e de Despesa, mas receita cabe apenas ao Executivo, assim como a principal parte das depesas - serviços prestados a população -, na parte que toca ao Legislativo, não existe receita que ele produza, entra apenas com a despesas, dos seus "serviços"), orçou para si uma previsão de despesa para 2010, de R$ 2.586.000,00. Desse valor, os vereadores querem consumir, R$ 450.000,00 em diárias e despesas de transporte. Isso que para este mandato, ainda serão nove vereadores, imagine quando para o próximo mandato ingressarem mais três, conforme prevê a lei aprovada pelos Deputados Federais este ano.

Sei que se trata de uma "manobra" da oposição (que em Estância possui seis vereadores). Só posso acreditar assim, pois é uma irresponsábilidade, contingenciar todo este recurso quando se sabe que a despesa da Câmara, apenas com o salários dos vereadores não passa de R$ 600.000,00.

Os vereadores alegaram ainda que tem "projeto" de ampliação da Câmara. Para quê? A platéia das sessões ordinárias é exigua. E só vai mais gente ouvir os vereadores nos seus "debates" construtivos quando há uma sessão solene. Vão os convidados que, em geral, passam constrangimento e vergonha tal o nivel das preleções dos parlamentares. E diga-se que isso se aplica a todos, indistintamente, que algum tenha escolaridade acima da média da maioria. Uma pobreza tal os discursos e debates que provocam náusea.

Mas, enfim, dirão sempre os parlamentares, para justificarem por que elaboraram um orçamento que já é superior ao desse ano (R$ 1.800.000,00, recurso este que a Câmara "devolveu" parte ao Executivo por que não conseguiu gastar): "o dinheiro que não gastarmos devolveremos ao Executivo'. Não dizem, porém, que qualquer dinheiro que "devolvam" só poderá ser investido para o ano seguinte. Ou seja, retêm um recurso que já sabem que não usarão apenas para atrasar investimentos do Executivo em benefício de toda a população.
O pior disso é que há vereadores que argumentaram tratar-se de um "grande lance político". Valha-nos! Aliás, essa foi a única participação que tiveram na discussão e elaboração das peças orçamentárias desse ano (Lei do Plurianual, Lei ds Diretrizes Orçamentária e a Lei do Orçamento), de resto simplesmente aprovaram o que o Executivo mandou. Vamos ver agora se submetarão a "participação" do leitorado o "projeto" de viagens e de ampliação da Câmara. Afinal, se tanto o PPA, quanto a LDO e a LOA, foram amplamente discutidas, debatidas, em audiências plenárias públicas. Por que não, então, as viagens e "obras" que a Câmara pretende?

domingo, 22 de novembro de 2009

Lei pune sexo com menores, mesmo consentido

Li esta semana uma noticia no Jornal NH.: “Nova lei de estupro tem primeiro preso”.(Ed. 21.11.2009). O texto da conta de que a policiais ao fazerem buscas numa residência atrás de drogas, pegaram um rapaz de 19 anos, na cama com uma adolescente de 13 anos. Conhecida a idade da garota, os policiais prenderam o rapaz, com base no artigo 217, da Lei Federal 12.015, de publicada em 10.8.2009 (Código Penal), que trata de “conjunção carnal ou ato libidinoso” com menor. A lei ampliou o rigor no que tange a crimes sexuais.

A figura da vítima de estupro mediante violência presumida deixa de existir. De hoje em diante, intitula-se “estupro de vulnerável”. De acordo com a redação, ocorre o estupro de vulnerável na hipótese da prática de conjunção carnal ou ato libidinoso diverso contra menores de 14 (catorze) anos. Independente do ato sexual ser consentido pela menor e, ainda, mesmo que a mesma seja emancipada, não deixa de se constituir crime. A pena prevista, em caso de condenação, é de 8 a 15 anos de reclusão.

Há quem conteste este rigor da lei. Afinal, dizem, hoje em dia as meninas acima de 10 anos já podem ser mães. O argumento é pífio, mas não faltarão teses de defesa de advogados em prol de seus clientes presos nesta condição. É de se considerar que numa sociedade extremamente sexista e machista, que a lei vem na proteção das mulheres mesmo contra a vontade delas, principalmente, adolescentes onde o cuidado com o uso de contraceptivo (pílula, diu ou preservativo) não é discutido em casa, onde os pais, após a primeira menstruação, não dedicam as filhas uma conversa intima e sincera sobre a agora condição reprodutiva da menina.

Por outro lado, é de se considerar que, o fato de meninas ( e mesmo, meninos) começarem sua vida sexual cada vez mais cedo, leva também a gravidez (quando na adolescência, de alto risco). Estima-se que, no Brasil, cerca de 20% das gravidezes são de meninas com menos de 15 anos, o percentual é três vezes maior que o verificado na década de 70. A lei considera o menor de 14 na mesma condição de pessoa incapaz, por deformidade ou deficiência mental, que “não tem o necessário discernimento para a prática do ato”.

O caso noticiado de Novo Hamburgo, deverá gerar, se for a julgamento, contestações e jurisprudências. De qualquer forma, é bom que rapazes, menores ou não, fiquem atentos. Sexo com meninas menores de 14 anos, mesmo que consentido, dá cadeia, “cana pesada”. Se a natureza, principalmente ou a mídia, induz cada vez as meninas a terem experiências sexuais mais cedo, a sociedade, busca regula isso mediante lei. A partir da evidência deste caso, pode-se dizer, que qualquer pessoa pode denunciar a policia ou a Promotoria Pública, casos onde os envolvidos sejam menores de 14 anos, pois esta ai constituído um crime.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Artigo sobre o golpe nos mestres da Yeda

Golpe de Mestre ou Golpe nos Mestres?

Nos últimos tempos, a palavra golpe tem estado em voga no Rio Grande do Sul. A própria governadora, usando um derivado, chamou a oposição de golpista, devido às inúmeras denúncias contra o seu governo. No entanto, Yeda esqueceu de mencionar na oportunidade que essas ocorrências não partiam dos seus opositores, mas de seus companheiros de sigla e ex-componentes de sua gestão.

Na última semana, o jornalista Paulo Sant”Ana usou como título de sua crônica a parte inicial que ora denomina esse artigo (Golpe de Mestre). Confesso aos leitores que a palavra golpe, a mim, soa como algo pejorativo. Resolvi então recorrer ao Novo Aurélio, o dicionário.

Inicialmente, o dicionário dá a origem do vocábulo e apresenta um primeiro significado:"bofetada"". Então me lembrei do Piso de Yeda, que na verdade nada mais é que uma "bofetada" na dignidade dos educadores. Acredito que o governo possa até iludir alguns jornalistas inocentes, desinformados ou que agem de má fé, entretanto, dizer que sua proposta contém um novo Piso aos trabalhadores em educação é subestimar a inteligência da categoria.

Mas, continuando a procura no dicionário, deparei com outro significado, que acredito seja bastante pertinente ao tema em questão: "manobra desonesta, com o fim de enganar, prejudicar outrem". Ou seja, essa versão, acredito, explica a parte derradeira do título desse artigo (Golpe nos Mestres). Pois, na minha opinião, a governadora, mais uma vez, "tenta jogar para a torcida", pensando que a população é ingênua, iludida que ganhará aplausos nessa tentativa de golpear mortalmente o Plano de Carreira dos Professores e o Piso Nacional dos Educadores.

Talvez o ilustre jornalista, com a proximidade das festas natalinas, tenha caído no conto do Papai Noel. È absolutamente claro que os fatos depõem contra a governadora, pois não seria apenas um paradoxo, como atitude esquizofrênica, alguém liderar uma ADIN no Supremo Tribunal Federal (STF) contra um Piso de R$ 950,00 e depois oferecer R$ 1.500,00 a mesma referência.

Logo, o que podemos concluir que o Governo do Estado, na tentativa desesperada de melhorar seus índices de popularidade, na esperança de tornar viável sua candidatura à reeleição, inicia outra falácia, semelhante ao do Déficit Zero, agora, a do Pseudo-Piso. Então, Yeda alardeia um Piso, que na verdade, não passa de um abono.

Evidentemente, que esses projetos de Yeda, de Golpe de Mestre nada tem, o que está mais propenso a se configurar, se as denúncias do Mistério Público Federal (MPF) se confirmarem (todos são inocentes até prova em contrário) e fazendo novamente alusão ao dicionário acima citado, há mais um golpe na praça, protagonizado por esse nefasto governo, amparado por sua base aliada, onde já se torna flagrante, o famigerado toma-lá-da-cá da política brasileira. Vale ainda lembrar, principalmente aos parlamentares do bloco de apoio do governo, que no Rio Grande do Sul, ninguém que desrespeitou a educação passou impunemente.

Novamente, como em texto anterior, saliento aos colegas educadores, que é imprescindível, na Assembléia Geral do próximo dia 20, lotarmos o Gigantinho, mostrando que estamos mobilizados e atentos aos conchavos políticos e também, que não pouparemos esforços para denunciar aqueles que votarem contra a educação dos gaúchos. Afinal, que interesses obscuros permeiam essa base parlamentar, que insiste em dar sustentação a um governo que sangrou a maior parte de sua gestão?

Finalmente, dirigindo-me aos colegas que se desesperam pelas inverdades que circulam na mídia tradicional: procurem ficar serenos, pois essa, paulatinamente, começa a sentir o esvaziamento de seu poder de manipulação com o advento da internet e, cada vez mais, o mundo virtual está proporcionando uma democratização da informação e os jornalistas dos grandes conglomerados deverão, inevitavelmente, diminuir a soberba.

Siden Francesch do Amaral-Diretor do 14º Núcleo do CPERS/Sindicato e membro do Conselho Geral da Entidade

domingo, 15 de novembro de 2009

Impressões sobre Lula

Acabei de assistir na RedeTv! a uma entrevista com presidente Lula. Um bom trabalho do jornalista Kennedy Alencar. Embora a RedeTV! (no RS retransmitida pela Pampa) tenha uma programação bastante popularesca (para não dizer, de mau gosto), ganhou pontos com esta entrevista muito bem conduzida.
Lula falou da trajetória pessoal (sempre fala), do governo, das críticas, inclusive, do ex-presidente FHC e disse que depois que deixar a presidência falará sobre coisas que aconteceram no seu governo, ao ser questionado, sobre o mensalão e outros escândalos.
Vendo a entrevista, conclui que, de fato, Lula é um personagem sem paralelos na história pretérita tanto quanto futura, do Brasil. O fato único de um cidadão originário da classe trabalhadora, operária, chegar ao comando do país representa um momento que talvez só venha a se repetir se o próprio Lula voltar a ser candidato numa nova eleição. A forma dele conduzir a politica, de dar nome ao candidato (a) à sua sucessão, demonstra também que ele não se tornou mas sempre foi pragmático. Assim era ao tempo de sua atividade sindical e, no poder, aprendeu que a manutenção do projeto politico eleito com ele em 2002, depende de alianças políticas que fizer. Aparentemente, acredita que isso não leva a perda de identidade do projeto. Vendo Lula falar na entrevista, parece que desta convicção ele não abre mão. De fato, o Brasil de hoje é outro que talvez não tivessemos se houvesse se mantido o projeto politico encarnado por FHC, no ultimo decênio do século 20. A entrevista esta neste link.

quarta-feira, 11 de novembro de 2009

É o fim do mundo?


O mundo vai acabar? Previsões catastrofistas sobre o fim dos tempos aparecem com alguma peridiocidade no calendário daqueles acham que existe uma data para tudo terminar. Cabalistas lidam com datas e números num exercício de adivinhação do fim dos tempos. Ora, para os que acreditam na existência do divino, de Deus e juntam a isso datas prováveis da vinda do Senhor, achar que ela pode se enquadrar no calendário ocidental em conjecturas de aproximações com outros calendários usados por povos antigos (como os maias – povo aborígene da América Central exterminado pelos espanhóis- nos quais se baseiam as atuais previsões de que o mundo se finará em 2012), vai contra a lógica. Existindo um ser divino, Deus, o que seria o tempo para ele? Se “Deus é”, o tempo, espaço, com os concebemos não existem para Ele. Então qualquer data que se queira estipular para o fim do mundo não tem nenhum fundamento, porque estamos usando um tempo humano, finito.
Por certo, o mundo, a Terra, assim com o Sol, chegará a um fim. Se começo houve, fim há. Pelo que a inteligência humana já conheceu, houve um começo de tudo o que ai está, de que forma isso ocorreu e por que ocorreu não se sabe explicar ainda. Podemos até explicar como ocorreu, mas é muito pouco provável que se explique por que ocorreu. Se chegarmos a esta explicação, chegaremos a Resposta Definitiva. Chegando nela, não haverá mais a existência. Não existiremos mais, seremos Deus, Aquele que É.
Aos deistas é possível que ao fim de tudo cheguemos a isso, transformemo-nos todos Naquele que É, pois se Dele somos obra a Ele tornaremos. Os ateístas não consideram isso. Para eles o significado e sentido da existência é não ter significado nem sentido algum. Por que precisaria ter? questionam. Para estes a vida moral, independe da existência de Deus basta ter como parâmetro o princípio categórico kantiano: “não faça aos outros (ao mundo) o que não deseja que faça para ti mesmo”.
O dilema da finitude da existência persegue os seres humanos desde quando o cérebro de uma das muitas espécies que vicejavam sobre a Terra desenvolveu-se acima dos cérebros dos demais seres e, num processo rápido de milênios (considerando que a existência do universo é estimada em mais de 15 bilhões de anos e a própria Terra teria ao redor de 4,5 bilhões de anos de vida) fez surgir ao que hoje os cientistas denominam “homo sapiens sapiens”(ou o homem que sabe que sabe). E este homem passou a raciocinar, a imaginar e a buscar – graças a esta capacidade que o diferenciava de todos os demais animais – uma explicação para a existência e, por isso, a tentar adivinhar quando tudo se extinguiria. Surgiram a partir daí em algumas civilizações datas nas formas de calendários que regulavam suas atividades e vidas.
O certo é que o fim de tudo é o fim de cada um, embora deva haver um momento – um tempo – em que tudo aquilo que de algo nasceu a ele retornará e de novo nascerá. Um processo sem inicio e sem fim, ou seja o que Heráclito de Éfeso, filósofo dos primórdios do nascimento do pensamento grego (séculos V a.C), concluiu: “tudo flui”. Fora isso, tudo o mais é artifício para o lucro de poucos (que o diga Hollywood) em cima da ignorância de muitos.

domingo, 8 de novembro de 2009

Salário novo??

A governadora Yeda Cruzius (PSDB), anunciou com pouca pompa e alguma circunstância que os professores em 2010 passarão a receber, por 40 horas semanais, a quantia módica em relação ao salário que ela levará como aposentadoria por quatro anos de serviços prestados e já pagos ao estado, causa estranheza. Lembro que no governo Jair Soares o magistério ganhou um aumento quando foi instituído um piso mínimo de 2,5 salários mínimos. Foi ao final do governo. Logo que assumiu o governador Pedro Simon , a lei que institui o piso foi questionada e considerada inconstitucional. Simon, ficou dois anos no governo e os gaúchos os premiaram com um senado eterno, onde não há nenhuma responsabilidade executiva com o fazer.
A margem do anúncio do novo piso salarial para os professores, há o que correndo? É triste isso mas nenhum governante é confiável. Sempre estão usando e manipulando a população para o prazer de seus próprios e sempre obscuros interesses.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Outras moscas, mesmo modus operandi


A realidade da política não muda. Aparentemente a mudança das moscas sobre o monte dá a impressão de que tudo muda. Há municípios na nossa região onde a mudança no comando do Executivo foi radical. De repente, apareceram no cenário político personagens desconhecidos para a grande maioria do eleitorado mas que diante da mesmice instalada se fizeram passar por novidade, pelo novo, pela mudança. Assim, conquistaram os votos de eleitores cansados com os mesmos. Mas, o que se vê tão logo assumem o poder? Logo percebe-se o engodo. Não se faz diferente quando os outros são o mesmo do mesmo.
A ambição política é um bem quando não misturada com a ambição privada. A ambição política no sentido do servir ao povo alçando instancia do poder que permitam um alcance maior das ações que se quer realizar. Porém, utilizar-se de um naco de poder, como é o caso do exercício do Executivo Municipal, para através distribuição de cargos e benesses para futuros vassalos, é desgraçada imoralidade. Político, seja ele prefeito, vereador ou qualquer outro cargo eletivo acima disso, que usa de meios como a criação, distribuição de cargos em detrimento de investimentos na melhoria do seu município, da sua cidade, é, infelizmente, o subproduto do “rastoio” político que resta aos cidadãos de bem nas fronteiras perdidas do país e do estado.
É certo que isso não se vê só pelos brejais subdesenvolvidos, mas acontece em linha reta de Brasília a Porto Alegre e, desta as quase cinco centenas de municípios que fazem a existência do estado. Este esquadrinhamento serve em qualquer direção do país. Mas, o que fazer? Os políticos, prefeitos, vereadores, enfim, que temos são ou não retrato do que somos como nação, como estado, como município? A mudança para permanecer a mesma prática da a impressão de que qualquer que seja o cidadão ou cidadã que for alçado pelo voto ao poder não fará outra coisa senão a mesma de sempre: “ primeiro eu, depois os meus. Os outros? Ah! Quem são?” Os outros são os pasmos e passivos eleitores. Felizmente, isso não acontece tanto em Estância Velha quanto em Três Passos. Ou, me engano?
* A foto que ilustra este post é curiosa. Na guerra, um mata môscas é imprescindível. As moscas a que me refiro no texto precisam de qual e equipamento para serem eliminadas?

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O fluir da moral


Tudo flui, afirmava o filósofo Heráclito, da cidade de Éfeso (onde hoje esta situada a Turquia), lá pelo século IV, antes de Cristo. Em grego a afirmação seria:”pan thá rei!” Numa tradução mais ao entendimento contemporâneo: “nada é para sempre”. Aliás, este é o titulo em português de um belíssimo filme de Robert Redford, que com inesquecíveis imagens da paisagem do estado de Montana, nos EUA, conta a historia de dois filhos de um pastor que tomam rumos diferentes na vida. Vale a pena procurar o filme nas locadoras, deve ter em DVD, embora seja do inicio da década de 90.

Ocorreu-me a lembrança do filme por que o centro da história são pescarias realizadas entre o pai e os dois filhos, quando crianças e depois já jovens. Uma convivência de respeito, digna, afetuosa. Fez-me lembrar que, quando garoto, tive pouco tempo para desfrutar da convivência com meu pai, mas restaram três ou quatros boas lembranças daquele pouco tempo de convivência que me trazem a memória a serenidade com que ele encarava os fatos, mesmo aqueles que deixavam minha mãe alvoroçada ou, eu, como criança, temerosa. Papai partiu há 40 anos.

Por certo, as afetividades de hoje não são iguais as de 40, 30 anos para trás. Os laços familiares parecem ter-se modificado. A convivência e o respeito entre indivíduos de faixas etárias diferentes de tempos passados é bem diverso dos desses tempos “mudernos”. Não que se deva ter uma ideia saudosista e romântica dos “anos da minha infância”, mas é evidente que as responsabilidades e as necessidades no provimento e na constituição de uma família, nos dias atuais, parecem ter legado o exemplo e a educação dos filhos para outros que não o pai e a mãe. Hoje, observo em boa parte de meus alunos, meros resquícios de fundamentos morais sem os quais parecia impossível a convivência em outros tempos.

Assim, parece que a fase da anomia (do grego, a, “negação” e nomos, “lei”= algo como “sem lei”) que Jean Piaget, atribuiu a primeira fase da vida da criança, período em que ainda não tem estabelecidos valores morais, permanece para toda a vida. Temos uma geração de anômanos que talvez gerem outra geração de anômanos e assim iremos, nesse fluir triste, a uma condição de sociedade de completa ruína moral?


Diante de tal realidade, um dos princípios categóricos do filósofo Imanuel Kant que pregava: “age de tal forma que o teu agir possa tornar-se uma lei universal”, no sentido de: “não faça aos outros o que não quer para si mesmo”, parece estar acontecendo às avessas. Será que esse fluir, esta mudança permanente de tudo e todos o tempo todo e sempre, no sentido heraclitiano, poderá também nos levar a volta de tempos mais afáveis? Ou, irremediavelmente, o fluir só flui para a frente, para tempos feitos de cada vez mais luz, mas tanta luz que menos ilumina e mais cega?

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Diferenças entre Yeda e Lula

A governadora Yeda Cruzius, como já era esperado foi anestiada a priori, pelo menos, no conceito dela, do impichamento. Era evidente que tendo uma maioria significativa, o processo de impeachment seria arquivado. Os deputados governistas apenas caem no ridículo, mas ele nem ligam para isso. O grau de rejeição do governo Yeda é invenção midiatica ou da oposição. E ficamos nisso. Já não é mais o Rio Grande este que temos.

Por outro norte, esta o presidente Lula, com a sua candidata a presidente, a ministra Dilma, a tiracolo, percorrendo o pais “inaugurando” obras, ou inícios de obras, enfim, não importa. Importa expor a candidata ao conhecimento dos 70% que aprovam o seu governo buscando vincula-la a este percentual. É certo que isso é campanha eleitoral. E ele, vai a publico dizendo que é intriga da oposição. Sou eleitor do Lula, sei que a luta política no Brasil é de foice no escuro mas acho que os princípios morais do presidente são muito voláteis.
Entre Lula e Yeda a distância em termos de conceitos morais, em se tratando a vida política e pública, parece-me que tem a distância de milonésimos de centímetros.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Vermes da violência


A violência que explode na cidade do Rio de Janeiro, de forma mais ou menos intermitente, quando ganha os noticiários choca. Um integrante do Comitê Olímpico Internacional comentou que os cerca de 20 mortos resultantes do confronto entre traficantes e entre traficantes e policiais esta semana, é menor que o número de mortos nos atentados terroristas de Londres em 2005, por exemplo. Por isso, não via a violência na cidade do Rio de Janeiro como preocupante em vista das Olimpíadas de 2016.

Acho razoável a ponderação. Estive no Rio, participando de um congresso em 1986, no retorno comprei um jornal e li que haviam ocorridos 24 assassinatos entre sexta-feira e domingo. Havia ainda uma reportagem sobre como os rabecões (veículos que recolhiam os cadáveres) corriam para chegar primeiro e ficar com os despojos do morto. Terrível. Será que o Rio de hoje é outro que aquele de mais de duas décadas? Mais, como será o Rio de 2016, na sua convivência com este “estado de guerra” e violência?

A violência cotidiana enfrentada pelos cariocas, certamente, não é uma exceção. O que nos choca ali, é o enfrentamento direto e televisionado entre traficantes e entre policiais e traficantes e, mais, quando se noticiam que proliferam também milícias, uma espécie de grupos paramilitares que atuam extorquindo da população em troca de uma suposta “segurança”. A propósito, não pagamos Rio Grande a fora, alguns “pilas” por mês para “empresas” de segurança passarem duas, três vezes por dia ou noite pelas nossas ruas buzinando para “espantar” possíveis malfeitores?

Enfim, dizem sempre que o império do tráfico e da violência é a ausência do Estado. Não sei. As vezes, a violência praticada pelo Estado é pior do que a sofrida dos bandidos, grupos criminosos, quadrilhas. A violência do estado é exercida por governos e políticos que fazem leis que beneficiam o crime, que se corrompem, que investem pífios recursos em educação, que esquecem a saúde, que oprimem o povo com impostos escorcheantes. Isso, sem contar a violência explicita de um sistema policial mal preparado em todos os sentidos e um judiciário tristemente afastado do seu principio como poder responsável pela aplicação da lei de forma imparcial e igualitária.

De fato, a violência cotidiana do Rio, não é impedimento para a realização da Olimpíada. O tráfico é filho de uma sociedade desigual. O que é vergonhoso é o fato de que, de antemão, já sabemos que os bilhões que serão necessários para as obras que proporcionarão o evento, diante do que vemos também todos os dias, em se tratando de obras governamentais, já começam a ser corroídos pela ganância e ambição dos vermes que infestam a vida pública no país. Bem lembro de uma gravação (de uma destas operações de desarticulação de quadrilhas que agem no Rio Grande dilapidando o Erário) onde dois desses vermes trocavam informações sobre as falcatruas em andamento e um insinuava que a realização da Copa do Mundo (com jogos no Rio Grande do Sul), renderia muitas “possibilidades” de negócios devido as obras que o Poder Público seria obrigado a realizar. Se já a Copa atiça a rapinagem incrustada no Poder, o que se pode pensar da Olimpíada no Rio? Estes vermes são mais difíceis de combater que o tráfico e a bandidagem que prolifera país afora. Aliás, são eles uma violência maior pelo dano que causam ao país de forma permanente e contínua.

domingo, 11 de outubro de 2009

Político faz na vida pública o que faz na privada?


Afinal, a casa da cidadã Yeda Cruzius é extensão do ambiente de trabalho da Governadora Yeda Cruzius? Literalmente o que ela faz e adquire no exercício da sua função pública ela pode fazer também na privada? Ou vice-versa.

Em que situação chegamos no Rio Grande do Sul!?. Justifica-se com a tinta e o papel da lei que um ente político, cujo exercício do cargo é transitório, pode usufruir do erário, do dinheiro do contribuinte, para fins privados. Sim, esta é a explicação dada pelos cordatos (ou cordeiros?) defensores do governo de Yeda Cruzius (PSDB, PTB, PMDB, PP). O fato de aparecerem notas cobrando ao cidadão-contribuinte, através do caixa do governo, móveis e outros serviços prestados na casa da senhora Yeda Cruzius, justifica-se pelo fato de ela ser a governadora eleita pelos gaúchos?

Por esta ótica, de que a privada é extensão da atividade pública, o prefeito de qualquer cidade pode adquirir móveis e fazer reformas na sua casa e mandar a conta para a contabilidade da prefeitura. Da mesma forma, o presidente do Legislativo Municipal. A questão é apenas de conceito moral já que a lei permitiria tanto.

É certo que este último fato – o de que a governadora Yeda Cruzius, usou dinheiro do Erário para fins privados da cidadã Yeda Cruzius – não deve também ter sido considerado pela relatora do processo de impeachment, a deputada Zilá Breitembach (PSDB). Até por que é mais recente e outros de igual ou maior nível escandaloso deverão surgir até o final do mais desastrado governo que o estado já teve. Por conta disso, a deputada entendeu, ao assinar o relatório negando andamento ao processo, que todos os fatos, gravações, indícios e provas até agora apresentados a sociedade não passavam de ilações mentirosas, falsas dos que fazem oposição a governadora, dos que rejeitam o seu governo, ou seja, segundo pesquisas, perto de 70% do eleitorado gaúcho. Não se esperava outra coisa da ex-prefeita de Três Passos embora, às vezes, ela pareça constrangida na sua persistente defesa do governo do seu partido, pois deve ter em conta que fez dois governos sérios e isentos sobre os quais não recaiu tantas dúvidas como recaem agora sobre a sua companheira de partido que esta no Piratini.

Tudo isso que acontece no estado, por certo, tem como uma das suas causas o processo eleitoral que se desencadeia tão logo o governante eleito toma posse para cumprir o mandato que lhe delega o eleitor. O que pode servir de refrigério a nossa alma gaúcha é que tudo isso sirva de lição para que estejamos mais atentos ao direito que legamos aos políticos para nos representarem na condução do país, do estado e do município. Não devemos aceitar que eles façam na vida pública o mesmo que fazem na privada.

domingo, 4 de outubro de 2009

Adios, La Negra!


Hoje, fiquei consternado. Mercedes Soza, la Negra, partiu. Aproveitei o dia para ouvir canções dela. Mulher cuja voz a todos encantava tanto na música como quando manifestava suas idéias políticas. É triste perder pessoas deste naipe. A impressão que se tem é que os ruins vivem mais. Não morrem. Não passam. Penso, às vezes, que estes personagens tão necessários a história recente pelas suas trajetórias, caráter e personalidade, vão envelhecendo e, com isso, partindo. Terão substitutos? Quem os sucederão?
Hoje também, fazem 40 anos que meu pai faleceu. Foi lá no ano de 1969, aos 33 anos, eu com 8 anos para fazer 9. Poucas e esmaecidas lembranças que cultivo com carinho. Teria hoje 73 anos. Como seria o “seu” João Baptista, com seus bastos cabelos negros e entradas significantes, nesta idade?

sábado, 3 de outubro de 2009

O Brasil Olímpico

Em 2016 teremos a Olimpíada. A cidade do Rio de Janeiro será o epicentro do esporte mundial. É a culminância do projeto que já teve um ensaio grandioso com os Jogos Pan-americanos e, este ano foi corroborado com a indicação do Brasil também para sediar a Copa do Mundo de Futebol de 2014. Então, no período de uma década o Brasil estará sendo o centro de grandes acontecimentos desportivos. Depois de séculos e, principalmente, nas ultimas décadas apenas ensaiando sair da periferia das nações desenvolvidas, o Brasil de tantos presidentes ilustrados está entrando na sala de reuniões dos países que serão ouvidos e influirão de forma decisiva no mundo pelas mãos de um presidente tido como sem lustro e erudição.
É certo que tanto a Copa do Mundo como as Olimpíadas, assim como foram os Jogos Pan-americanos, envolvem projetos grandiosos de infra-estrutura. Isso significa somas vultuosas de recursos públicos e privados. Lidar com volumes significantes certamente atiça a cobiça daqueles que circulam nos corredores do poder. Assim, como os gastos totais para os jogos Pan-americanos nunca ficaram esclarecidos, sabe-se, de antemão, infelizmente, pelo histórico do país que não faltaram suspeitas do inicio ao fim da execução dos projetos para os jogos. É a nossa sina?
Certamente, em outros paises onde aconteceram os jogos a implantação da infra-estrutura, as obras não aconteceram totalmente na limpidez. Independente disso, não se pode negar que projetos desta envergadura geram empregos, movimentam a economia, geram gastos, por certo, mas servem também para melhorar consideravelmente a infra-estrutura dos centros onde acontecem. Há ainda, o estimulo, o incentivo as praticas desportivas. Muitas, hoje, promessas no campo dos esportes, até os jogos olímpicos, com incentivo, apoio, poderão concretizar-se em resultados de sucesso.
O que poderemos colher de tudo isso nesta década de preparação até culminar com a realização dos eventos e o que colheremos após eles? O resultado certamente será aquilo que nós permitirmos que seja. É certo que os bilhões que serão consumidos para preparar o país para os jogos deveriam ser também investidos na mesma medida numa área fundamental que é a educação. Neste campo precisamos andar mais depressa do possamos caminhar para colocar o país e os lugares onde os eventos ocorrerão em condições para que eles se realizem. De qualquer forma, os jogos acontecerão o que temos que fazer é dar o melhor que o pais possa dar para que se realizem como marca de um novo Brasil de fato, mesmo que hajam aqui arraigados velhos costumes.

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Tatú atropelado

O clima esta escatológico. É isso? Que seja. Chuvas, tempestades, pedras, ventos. Até os tatús (fica com acento de acordo com a nova reforma ortográfica? - não importa) estão abandonando suas tocas, por certo, inundadas pela umidade extrema desses dias. Tanto é assim que hoje, 28.09, no caminho para o trabalho, observei na avenida principal de acesso a cidade um volume esquisito na linha divisória do asfalto. "Um tatú?" Perguntei-me, pensando alto. Passei do trajeto mas encafifei. "Um tatú, aqui em pleno asfalto, à entrada da cidade?". É certo que às duas margens da avenida há terrenos não urbanizados, mas estes bichos são raros de serem avistados. Um quilômetro adiante dei volta. No retorno, passei pelo local e lá estava o bicho, estático. Morto? Estacionei o carro e desci. A chuva tinha amainado. Uma garoa fina cai. Cuidei para atravessar até o meio da avenida e chegar junto ao cordão central onde estava o bicho, lastimado. Definitivamente, morto, constatei. Pelo visto o atropelamento tinha sido a pouco. Não haviam ferimentos expostos e não havia sangue. Estimei que ele atravessara a via no momento errado. 7h20 era um horário de tráfego intenso. Péssimo horário para um bicho lento atravessar uma via movimentada.

Peguei o animal pelo rabo e cruzei a via de volta. Alguns carros passaram por mim e, por certo, os condutores olharam admirados a cena estranha de um homem carregando um bicho pelo rabo. Quem conhecia identificou que era um tatú. Devem ter pensado: "Olhe só, o cara atropelou um tatu e agora esta vai levá-lo para o café da manhã". Dizem que a carne de tatú é apetitosa.  Nunca experimentei. Coloquei o bicho no porta-malas e rumei para o trabalho. Sou professor, meu trabalho é na escola. Achei que o inusitado fato e o bicho, quase raro, poderiam servir para um aprendizado pedagógico.

Cheguei na escola, na hora em que a sineta soava pela primeira vez. Estacionei o carro.  Retirei o tatú, morto, do porta-malas.  A cena chamou a atenção de alguns alunos que chegavam no mesmo momento. Alguns acorreram na minha direção, curiosos.  Os garotos fazendo perguntas. Algumas meninas fugiram com ar de nojo. Questionaram-me como eu havia conseguido aquele animal.  Contei a história. Depois, deixei o bicho deitado sobre um jornal e fui para a sala. Lá mais perguntas. Ao final de várias explicações e algumas observações sobre o valor e sabor da carne de tatu, um aluno pediu para levá-lo. "Meu pai poderia usar o casco, principalmente, para fazer cabo de faca e preparar ele como comida", assegurou. Ascendi que sim. Mas observei que transportar um animal selvagem ainda mais morto, poderia implicar em situação de suspeita de crime ambiental, caso fosse parado por alguma autoridade policial. Ao final das aulas do turno da manhã, o aluno levou o bicho para casa. Espero noticias do que resultou do mesmo.

Contada a história resta a constatação de que o clima talvez tenha favorecido ao triste destino do tatú que, pelo que pesquisei, deve ser da familia Tolypeutes tricinctus, o dito tatú-bola. Pelo que consta é o menor tatu brasileiro, o único tatu endêmico, isto é, que existe apenas no nosso Brasil. É o mais ameaçado, porque, como não cava bem como os outros tatus, é mais fácil de ser caçado. Este, pelo visto sobreviveu em plena área urbana. Não sei por quanto tempo, mas, ao final, foi vitima daquilo que mais mata Brasil a fora: o trânsito.
* Foto do bicho, inevitavelmente, atropelado e morto.

terça-feira, 22 de setembro de 2009

Duas considerações

A lei que obriga a execução do hino nacional uma vez por semana nas escolas públicas e particulares de ensino fundamental está no Diário Oficial da União desta terça-feira, dia 22.09.09. De autoria do deputado federal Lincoln Portela (PR-MG), a lei foi sancionada na segunda-feira pelo presidente em exercício José Alencar e passa a valer a partir desta terça-feira.
O Diário Oficial desta terça-feira também traz a lei que inscreve o nome do índio guarani José Tiaraju, o Sepé Tiaraju, no Livro dos Heróis da Pátria, que fica no Panteão da Liberdade e da Democracia, na Praça dos Três Poderes, em Brasília.
A iniciativa marca os 250 anos da morte do índio, que liderou os indígenas dos Sete Povos das Missões, no Rio Grande do Sul, contra as tropas portuguesas e espanholas. Sepé era admirado por todos, pelas vitórias que acumulava nos jogos da tribo. Morreu em combate contra o exército espanhol na Batalha de Caiboaté, às margens da Sanga da Bica, na entrada da cidade de São Gabriel, durante a invasão das forças inimigas às aldeias dos Sete Povos.

Duas considerações: uma lei para que a valorização do hino nacional a partir das escolas. É válida. Os simbolos nacionais são a idendificação de uma nação e precisam se lembrados, conhecidos e respeitados, muito embora, infelizmente, se precise de lei para tanto. Já a inscrição do indio gaúcho, Sepé Tiaraju, no Panteão dos heróis nacionais, é também simbólico e vale mais pela lenda do que pelo que se sabe de fato deste personagem da história nacional.

domingo, 20 de setembro de 2009

Sofismas legislativos

Li um artigo do deputado federal Pompeo de Mattos (PDT) na editoria de “Tema para Debate” de ZH de 20.09.09. Há no mesmo espaço um contraponto do vereador Sebastião Melo (PTB-POA). Ative-me ao escrito do deputado, pois este é digno estar inscrito no portal da Galeria Sofismática da Política Brasileira. Ele defende o aumento do número de vereadores conforme Projeto de Emenda Constitucional (PEC), já aprovada na Câmara dos Deputados e também no Senado Federal. Afirma que a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), “desarrumou a representação parlamentar nos municípios”, quando reduziu o numero de vereadores em municípios com população acima de 50 mil habitantes e manteve o mesmo número em município com população inferior a esta. É, sem dúvida, um primor de sofisma. Sofisma consiste em apresentar um raciocínio dedutivamente válido quando não o é.
O argumento é de que haverá redução do percentual destinado as Câmaras de Vereadores do Orçamento do município. É efetivamente, falsa esta afirmação. O fato é que raríssimos municípios, a exceção dos grandes, o percentual constitucional de recursos a serem repassados aos Legislativos é integral.
Apliquemos um exemplo: em Estância Velha, o salário de um vereador é de R$ 2.600,00. São nove. Ou seja, R$ 304.200,00 (já considerando 13º. É vereador também tem). A partir de 2010, serão mais 4 (conforme o texto da Câmara). Isso significará um gasto adicional de R$ 135.200,00 (44,44%, a mais!!!) Isso sem contar os assessores e diárias. Neste item, em 2008, os nove edis de Estância Velha gastaram R$ 222.942,06. O percentual de gastos do Legislativo em relação as receitas correntes do município, não chega a 2%, justamente por que os vereadores estão amarrados ao salários cujo valor só pode ser modificado de um mandato para o outro e, neste período, só podem sofrer reajustes nos percentuais que o Executivo conceder a todos os servidores.
Com a proposta defendida pelo deputado Pompeo de Mattos, fica visível que haverá acréscimo substancial nas despesas com a manutenção do Legislativo que corresponde a metade dos gastos anuais do município com medicamentos distribuídos gratuitamente para a população. Isso se os atuais não fecharem um acordo com os eleitos para o mandato seguinte e aumentarem os vencimentos totais para o próximo mandato.
Estes dados referem-se a um município de médio porte. Estância Velha tem ao redor de 42 mil habitantes e um orçamento anual de R$ 56 milhões (2009). Pode-se daí observar que qualquer município deste ou de porte maior que não a capital, onde o imoral percentual constitucional não é atingido, mesmo que agora reduzido, sofrerão com a mesma situação. Haverá, sim, elevação das despesas e, de forma significativa, como se vê em Estância Velha, nesses municípios.
O sofisma, a falácia, é um exercício que faz parte da política, infelizmente, mas o deputado Pompeo de Mattos, poderia exercitar a verdade e dizer apenas que mais vereadores, significam mais “cabos eleitorais” de deputados e senadores. Seria um gesto corajoso, digno de um representante do povo. Mas isso já não faz mais parte da grande maioria dos homens públicos eleitos pelo voto do povo: dignificar o voto que recebem.

quarta-feira, 16 de setembro de 2009

O Brasil em armas

O anúncio do presidente Lula de que o Brasil comprará aviões e até submarinos da França, infelizmente, demonstra que não conseguimos crescer além do nosso fado que é de sermos uma eterna republiqueta de bananas. Investir R$ 30 bilhões em armas para quê? Para nos defendermos de quê? Virão atrás do nosso petróleo os americanos? Ou, num futuro não distante, virão precisaremos de armas para defender a água que os próprios brasileiros não cuidam? Se qualquer nação do primeiro mundo decidir invadir o Brasil resistiríamos tanto quanto resistem os afegãos ou os iraquianos? Nós que não temos uma cultura de enfrentamento? Improvável.
Posto isso, pergunto ainda: quantas escolas de altíssimo nível, quanto de salários dignos poderiam ser pagos aos professores se estes recursos fossem investidos na educação? Foi esta a opção do Japão pós-guerra e também da Coréia. O que são estes países hoje?
Sempre votei em Lula - a exceção do primeiro turno naquela eleição que o Brizola concorreu e o Collor ganhou - e, ainda acredito que fiz a escolha certa. Porém, fico triste de observar que ele não consegue se desvencilhar de sua origem terceiro mundista. É certo, há investimentos em educação como não se via no país em décadas inclusive, com novas universidades e escolas técnicas federais, mas precisamos muito, muito mais do que isso para recuperar o tempo perdido. Que ações podem, por exemplo, os estados fazerem com isso? Os municípios?
Temos um país mergulhando em violência, em corrupção, uma classe política do pior naipe do mundo. Precisamos de um povo mais instruído para ser menos enganado, para dar mais qualidade ao país. Podemos esperar outros políticos e dirigentes de uma nação de milhões de analfabetos funcionais? O futuro não esta lá, distante, está aqui, no que se faz agora. É um discursos velho, repetitivo, falar de educação, mas quando o governo vais às armas, temos a impressão que nunca sairemos do discurso.
Lamento profundamente a atitude do governo em acarinhar a França e esquecer os brasileiros. Argumentos que giram em torno de questões de caráter geopolítico não me convencem. Até suporto, tolero os arranjos que Lula faz com personagens tipo Sarney, Calheiros e o repugnante Collor, mas atitudes da sua política externa e ainda estes arranjos internos é demais!!! As armas do Brasil para se defender no futuro são escolas de qualidade que construir hoje.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Crônica de um tempo distante

 Crônica de um tempo distante


 Daniel Ribeiro

 Há alguns dias, por descuido, deixei cair a minha carteira contendo pequena quantia em dinheiro e meus documentos de identificação. Perdia-a na rua. Uma hora depois uma pessoa procurava, no local onde eu estava, pelo dono de uma carteira. Foi quando notei que estava sem a minha. Prontamente, entregou-me a carteira identificando-me com os documentos. A pessoa – um homem dos seus 30 e poucos anos - disse que a encontrara da rua em frente.

Recuperar a carteira foi uma alegria. Os documentos estavam intactos, mas o dinheiro não estava junto. Agradeci a pessoa e pedi desculpa por não poder recompensá-la financeiramente pois não tinha dinheiro. Nem pensei que o mesmo pudesse ter ficando com o dinheiro e, certamente, não ficou senão não procuraria pelo dono da carteira. Ele agradeceu dizendo apenas: “Nem precisa, já me basta ter encontrado o dono.”

O fato me fez lembrar um episódio que ocorreu na infância. Uma das lições que meu pai me deixou na sua rápida passagem nesta terra. Ele faleceu um mês antes de eu completar nove anos. Foi no último ano de sua vida.

Meu pai não me ensinou a soltar pandorgas, isso eu aprendi na escola, no pré-primário, com minha primeira professora (hoje em dia nem espaço mais há nas cidades para isso e nem professores ensinam a fazer, quando mais soltar uma pandorga). Apesar de nunca ter soltado pandorga comigo,  meu pai orientou-me para o que é o certo e o que não é certo, o que é errado. Também sobre o respeito e a educação com que se deve tratar os outros, mesmo que discordem da gente. “Ninguém tem sempre toda a razão”, repetia. Isso tudo aprendi em lições como esta que aqui relembro e relato.

O fato.

Certo dia – no período de início das aulas, em março, quando eu cursava a segunda série, no horário da tarde – na volta da escola (distante cerca de quatro quilômetros), quando já me aproximava da minha casa, ao passar na rua em frente ao armazém de “secos e molhados” (assim eram chamados os mercados de bairro, na época) do seu “Ferrari”, percebi um pequeno volume no chão da rua. A rua (denominada de Santa Maria, na Vila Sulina em Santa Rosa - minha casa ficava na quadra acima, na rua Triunfo) ainda não tinha pavimentação. Agachei-me e apanhei o volume. Era um pequeno maço contendo algumas notas cuja estampa, tinham as figuras de Santos Dumont e do Tiradentes (não lembro de que valor se tratava e, pouco importa, de lá para cá a moeda nacional já mudou quase uma dezena de vezes). Olhei ao redor e não percebi ninguém por muito perto na rua naquele momento. Coloquei o maço dentro da minha pasta de pano com os cadernos e apetrechos da escola. Corri para casa.

Mamãe ao me ver entrando porta a dentro alvoroçado, espantou-se:

- O que foi, meu filho? Não precisa vir correndo, chega suado, repreendeu-me. – Isso ela ponderava sempre e completava: - Mas também não venha passeando pela rua.

Eu tirei da “pasta” o maço de notas

- Olha, mãe! O que eu achei na rua. Ela olhou espantada. Pegou o dinheiro da minha mão.

- O que é isso? Tu achou? Na rua?

- Sim, mãe – respondi. Quase em frente ao armazém do seu “Ferrari”. “Tava” próximo da valeta. – Expliquei. – Podemos ficar com ele? – Inquiri, ansioso.

- Vamos falar com o teu pai. Este dinheiro não é nosso. Tu não viu ninguém por perto que possa tê-lo perdido? Ninguém andando na rua, procurando algo?

- Não. Não vi ninguém por perto. – afirmei.

Mamãe foi até a janela da cozinha e avisou meu pai:

- João, vem até aqui, o mate tá pronto e, teu filho tem uma coisa para te mostrar.

Papai estava capinando nos fundos do terreno onde cultivávamos uma pequena plantação de mandioca, um eito de cana-de-açúçar que servia como cerca-viva delimitando o nosso terreno do do vizinho, batatas-doce e, - lembro ainda -, uns quatro ou cinco pés-de-pêssegos. Ele fazia isso depois que chegava do trabalho quando sobrava um tempo já que trabalhava numa estofaria. Nos últimos dois anos papai esteve muito doente. Meu irmão mais novo estava com ele. Mamãe estava grávida, esperando o terceiro filho (que seria filha) da família.

Logo ouvi papai, limpando-se no tanque de lavar roupa que ficava no lado de fora da “casinha” onde funcionava também um depósito e a lavanderia. Subiu os poucos degraus da escada do pequeno “puxado” ao lado da porta da cozinha. Meu irmão veio atrás.

- O que foi? – Perguntou, curioso.

- Conta para ele, filho. – Instigou minha mãe.

Eu fiz o mesmo relato. Peguei o dinheiro que deixará em cima da mesa e mostrei esperando que ele o pegasse para certificar-se da quantia. Papai apenas olhou para o que eu tinha nas mãos. O que ele me disse foi como um “laçasso” de vara de guaxuma – das raras vezes que ele aplicou em mim “um corretivo para lembrar que as coisas erradas doem”:

- Vai lá e devolve o dinheiro. - Ordenou.

Fiquei atônito. Devolver? Olhei para minha mãe. Ela pareceu não compreender também.

- Por que, pai? Eu achei. “Tava” no chão. Se eu não pegasse outro pegaria. Para quem devolver, nem sei quem é o dono? - Tentei argumentar.

- É. O guri teve sorte. Não é dinheiro roubado. É achado. Não se sabe o dono. - Disse mamãe, vindo em meu auxílio.

- Filho meu não tem sorte. – Sentenciou papai. – O dinheiro não é dele, não é nosso. Ele não trabalhou para ganhá-lo. Não o mereceu. Alguém perdeu. Alguém deve estar procurando. Deve estar fazendo falta para alguém. Se achou ali, próximo ao armazém do “seu” Ferrari, pode ser de alguém que foi fazer uma compra lá. Então, vai lá e devolve. Deixa o dinheiro como o “seu” Ferrari, ele é capaz de lembrar de quem possa ser ou alguém vir procurar no armazém dele. Ele faça o que achar certo para ele. O que é certo para nós é que o dinheiro não é nosso. Leva lá, agora.

Não retruquei. Minha mãe só olhou para mim fazendo um gesto de assentimento com a cabeça. Fui correndo até o armazém do “seu” Ferrari. Lembro dele e de sua mulher, dona Astra. Sempre solícitos. Vendiam fiado apontando na caderneta. “Seu” Ferrari tinha cabelos completamente brancos. Quando cheguei ao balcão ele veio atender-me:

- Diga, guri.

- “Seu” Ferrari, encontrei este dinheiro ali na rua, quase aqui na frente. Meu pai mandou entregar ao senhor para que devolvesse ao dono.

Surpreso, ele pegou a quantia que depositei no balcão.

- Teu pai mandou fazer isso? Mas quem é o dono? – Perguntou, incrédulo.

- Não sei. O pai disse que o senhor saberia de quem pode ser ou se alguém vier aqui procurar.

Quando voltei para casa, papai e mamãe tomavam mate.

- O que ele disse? – Mamãe quis saber.

- Ele perguntou se o pai tinha mandado fazer isso e também quis saber quem era o dono. – Respondi. E emendei: Eu disse que o senhor havia dito que ele saberia descobrir o dono.

Sorvendo o mate, sentado na “área” do “puxado” da nossa casa, papai fez um breve e definitivo discurso:

- Meu filho, vou de dizer uma coisa, nunca esqueça: sorte não existe. O que existe é trabalho, honradez, decência, honestidade. Jamais espere pela sorte. Tu pode conseguir muita coisa, pode até precisar dos outros e pode ser que não te ajudem, mas nunca fique com o que não é teu, não fique com o que tu não ganhou por teu trabalho, mérito. Sabe o que é isso?

Fiz um gesto negativo com a cabeça.

Ele arrematou:

– Isso quer dizer: seja sempre honesto e terás uma vida melhor não importa se for um homem humilde, pobre ou mesmo rico. Seja sempre um homem decente.

A história aqui, ganhou alguns adereços. Mas a essência que aprendi desta lição foi esta: sorte não existe, a vida é feita de trabalho, respeito pelos outros, pelo que é dos outros. Papai viveu pouco. Era analfabeto, assim como minha mãe. Morreu naquele mesmo ano, no dia 04 de outubro de 1969, dia de São Francisco de Assis, aos 33 anos. Eu tinha oito anos, quase nove anos, meu irmão três anos e minha irmã, seis meses. Mamãe ficou viúva aos 28 anos. Foi ela quem me trouxe de volta à lembrança este episódio, vários anos depois. Hoje ela também já não esta mais com a gente.

Quem descobriu minha carteira no chão, a recolheu, observou o conteúdo, pegou o dinheiro e jogou-a de volta no chão sem se importar de quem era, não agiu errado. Agiu apenas da forma como lhe ensinaram e os exemplos que recebeu em casa ou na vida se, para tanto, os pais não lhe ensinaram a lição correta.

Hoje, cada vez mais pais relegam tudo à escola, aos outros, a educação, o exemplo, que os filhos procuram neles. Sob o pretexto de que precisam trabalhar para prover a família, deixam os filhos a mercê da rua, da TV, da internet. Elementos básicos da formação do caráter e da personalidade são atribuídos a estranhos. É certo também que, muito embora, hajam pais se esforcem para educar os filhos em conceitos e preceitos morais de honestidade, de trabalho, de respeito, alguns filhos podem acabar decepcionando os pais. Diz-se que isso é da vida. Mas os pais amargam a frustração com o erro dos filhos como se fossem seus próprios erros. E, os filhos que erram ou não dão valor a honestidade, ao respeito, terão também filhos que dificilmente agirão de outra forma do que aquela que o exemplo dos pais lhes forneceu. Filhos não são apenas resultado da nossa carga genética, são também resultado da imagem de mundo e vida que impregnamos na mente e no caráter deles. Definitivamente, se queremos um mundo melhor temos que transmitir, com o exemplo nosso, o mundo melhor que queremos. Afinal, inexoravelmente, uma fruta jamais cai longe do pé que a gerou.  Isso em se tratando de uma fruta, mas nós, seremos humanos, temos opções. Nunca deixaremos, como a fruta, de ser resultado daquela árvore, mas  diferente da fruta, podemos optar por não repetir a árvore, embora isso não seja algo fácil e natural.
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terça-feira, 14 de julho de 2009

Furtam, furtaram, furtavam, furtarão

Padre Antonio Vieira, um dos maiores representantes da língua portuguesa (sec. XVII) em seu famoso “Sermão do Bom Ladrão” – ele possuía também uma imensa capacidade oratória – critica e denuncia um mal que vicejava nas cortes portuguesas de antanho. Transcrevo um parágrafo daquele seu magnífico sermão-denúncia, tal a sua contemporaneidade. Não fosse a beleza do texto, seria apenas uma trágica constatação de que a situação atual não é invenção dos dias de hoje, mas uma triste realidade histórica em se tratando de governos em qualquer esfera.

“... Tanto que lá chegam, começam a furtar pelo modo indicativo, porque a primeira informação que pedem aos práticos é que lhes apontem e mostrem os caminhos por onde podem abarcar tudo. Furtam pelo modo imperativo, porque, como têm o mero e misto império, todo ele aplicam despoticamente às execuções da rapina. Furtam pelo modo mandativo, porque aceitam quanto lhes mandam, e, para que mandem todos, os que não mandam não são aceitos. Furtam pelo modo optativo, porque desejam quanto lhes parece bem e, gabando as coisas desejadas aos donos delas, por cortesia, sem vontade, as fazem suas. Furtam pelo modo conjuntivo, porque ajuntam o seu pouco cabedal com o daqueles que manejam muito, e basta só que ajuntem a sua graça, para serem quando menos meeiros na ganância. Furtam pelo modo potencial, porque, sem pretexto nem cerimônia, usam de potência. Furtam pelo modo permissivo, porque permitem que outros furtem, e estes compram as permissões. Furtam pelo modo infinitivo, porque não tem o fim o furtar com o fim do governo, e sempre lá deixam raízes em que se vão continuando os furtos. Estes mesmos modos conjugam por todas as pessoas, porque a primeira pessoa do verbo é a sua, as segundas os seus criados, e as terceiras quantas para isso têm indústria e consciência. Furtam juntamente por todos os tempos, porque do presente — que é o seu tempo — colhem quanto dá de si o triênio; e para incluírem no presente o pretérito e futuro, do pretérito desenterram crimes, de que vendem os perdões, e dívidas esquecidas, de que se pagam inteiramente, e do futuro empenham as rendas e antecipam os contratos, com que tudo o caído e não caído lhes vem a cair nas mãos. Finalmente, nos mesmos tempos, não lhes escapam os imperfeitos, perfeitos, plus quam perfeitos, e quaisquer outros, porque furtam, furtaram, furtavam, furtariam e haveriam de furtar mais, se mais houvesse. Em suma, que o resumo de toda esta rapante conjugação vem a ser o supino do mesmo verbo: a furtar para furtar. E quando eles têm conjugado assim toda a voz ativa, e as miseráveis províncias suportado toda a passiva, eles, como se tiveram feito grandes serviços, tornam carregados de despojos e ricos, e elas ficam roubadas e consumidas. “

Há um vírus que cresta há séculos na nossa sociedade. Afeta a índole da nação, mas não é, certamente, um mal brasileiro, mas universal e histórico, embora, isso não justifique que aqui tenha se transformado numa epidemia. Incrustado no caráter da humanidade em tempos remotos parece não ter cura. É um elemento autofágico. Ao destruir seu hospedeiro para alimentar-se dele acaba se destruindo. Será esse o fim da sociedade, totalmente tomada pelo vírus da corrupção, do império malversação, da sonegação, do “levar vantagem a qualquer custo”? Estão todos esperando apenas a sua oportunidade de dizer: “agora é a minha vez”? Sucumbiremos todos, tanto os que dilapidam as riquezas nacionais quanto aqueles que hoje se sentem como uns “ETs” apenas por pautarem seu caráter pelos princípios da justiça e da honestidade mesmo nas coisas mínimas do cotidiano? Devo estar errado, a virtude não é uma raridade na consciência e caráter humanos, embora Hobbes (1588/1679) já se tenha sentenciado que “o homem é lobo do homem”.

sábado, 11 de julho de 2009

Os podres poderes

A "crise" no Senado, a tentativa de manter Sarney do cargo de presidente desta casa vetusta, a interferência de Lula, o PT tentando dizer ser o que não é, faz triteza.
É certo que ao governo que, não navega em mares sob sol, mas sob névoa e quer permanecer na névoa, dar a presidência do Senado a oposição é jogar-se as piranhas. Infelizmente, nem governo, nem Lula, são muito diferentes dos cães que ladram na oposição. Vejo com tristeza que a Dilma vá - e já esta fazendo - o roteiro todo destes que ai sempre estiveram, destes que aí estão. Será que não há outra saida a não ser jogar o jogo podre que sempre foi jogado na politica brasileira? Essencialmente, politica é podre, mas a gente sempre pensa que é possivel entrar no jogo sem sujar-se nele. Triste. Estou só lamentos.
A "crise" no Senado, a tentativa de manter Sarney do cargo de presidente

quarta-feira, 24 de junho de 2009

Eles fazem parte do que o Senado é


Sérgio Zambiasi, Pedro Simon, Paulo Paim. O primeiro elegeu-se há oito anos na esteira do que arregimentou de simpatia popular com um programa popularesco de rádio. Se quiser se manter deve concorrer a reeleição em 2010. O segundo, ficou menos de dois anos como governador (lembram quando?) e renunciou para viver senatorialmente. Esta por lá há quase 30 anos. Sempre aparece com discursos e gestos como paladino da ética. O terceiro, reelegeu-se em 2006. Fez do eterno discurso por uma aposentadoria justa sua marca. Sabe que isso jamais se consolidará. Na época da moeda nacional desvalorizada, fazia greve de fome por uma piso de US$ 100. Atualmente, brande a bandeira do fim do gatilho redutor que impede que o mesmo percentual de reajuste para o salário mínimo se aplique as aposentadorias. Lula queria o mesmo antes de ser presidente, agora....
Há tanto tempo no Senado, os três nada sabiam de tudo o que sempre aconteceu? E, mais, não conseguem nenhuma ação maior, um gesto outro, que o de fazer discursos indignados? Ah! Não é pelos representantes gaúchos que o Senado é pior ou menos ruim. O Senado é uma instituição inútil. Ou se pode achar que tenha utilidade uma instituição com 81 representantes que consome um orçamento semelhante ao de uma cidade como Porto Alegre?
O Senado é apenas mais uma vergonha nacional, uma chaga.

Um novo início para o fim

Nos primórdios da civilização, quando a sociedade começou a se organizar em clãs e depois em tribos os indivíduos mais velhos, passaram a constituir um poder: os conselhos de anciãos. Para eles convergiam importantes discussões de interesse da população. Ali se reuniam as pessoas mais vividas, depositárias de maior sabedoria e, também conhecimento para deliberarem sobre os assuntos pertinentes a aldeia, a cidade. Os anciãos eram escolhidos entre os mais velhos, os sobreviventes num tempo onde viver muito era algo atribuído a benemerência dos deuses ou do Deus. As decisões que emergiam do conselho serviam de orientação para as ações dos dirigentes e lideres do povo.

Na Bíblia há muitas referências a “consultas aos anciões”. “O Senhor respondeu a Moisés: “Junta-me setenta homens entre os anciãos de Israel, que sabes serem os anciãos do povo e tenham autoridade sobre ele.” (Números 11,16). Sempre aos mais velhos consagrou-se uma autoridade natural sobre os demais.

No império romano, os senex (velhos) adquiriram postura política ainda mais relevante. Era um poder do povo o S.P.Q.R – Senatus PopulusQue Romanus – que quer dizer “O senado e o povo romano”. Faziam parte dele os patrícios ilustres, mas muitos já não tão anciãos (Catilina não era um ancião, embora Cícero fosse). De qualquer forma, eram os homens não apenas de maiores posses, mas também de maior estudo e conhecimento. Muito embora tenha inventado e dado nome a esta instituição de decisões políticas, o Senado Romano não deixou de ter manchas e ser um antro de intrigas políticas e desvios morais e éticos.

Talvez seja por conta da história que o Senado Federal brasileiro, se mostre da forma como o vemos e conhecemos hoje. A chamada Câmara Alta, do Poder Legislativo, deveria ser o espaço da ponderação e sapiência necessária para aperfeiçoar e qualificar ainda mais a democracia, as leis. Uma instância composta de homens probos, virtuosos. É isso que se vê?

Há como admitir que o Senado seja uma instituição fundamental para a democracia, a um custo de mais de R$ 2 bilhões por ano? Ou que sejam necessários a cada um dos 81 senadores (que são eleitos para um mandato de 8 anos) 110 funcionários? E, não fiquemos pensando apenas no que nos custa o Senado, quando custa uma Assembléia Legislativa? Quanto custa uma Câmara de Vereadores? São, por certo, organismos importantes do corpo democrático, mas dão a si mesmo, através daqueles que, eu e tu, nós, elegemos, esta importância? Se temos as instituições que temos, somos parte da causa disso. O que fazer, se mesmo os bons, em meio a tanta nulidade, acabam, quando não sucumbindo, desistindo?

Triste país, triste estado, triste cidade que dá a si representantes políticos de tão baixo nível, de caráter duvidoso e sem nenhum princípio e respeito pela própria democracia. Em 2010, há eleição para o Senado (um senador), para a Câmara Federal (35 vagas) e para a Assembléia Legislativa (55 vagas). Reconduziremos os que se apresentarem a reeleição? Elegeremos novos? Ou votaremos nulo manifestando, desta forma, nossa indignação? Aliás, se fossemos nós os eleitos, seríamos diferentes? Faríamos um Senado, uma Câmara Federal, uma Assembléia Legislativa, diferente daquela que temos eleito ao longo dos anos? Na dúvida, desde já decidi, votarei nulo. E farei campanha para isso, como uma atitude de reflexão. Talvez seja um início, pois parecemos estar no fim.

domingo, 21 de junho de 2009

Movimento fora Yeda




Dia 19, de junho, de manhã, sindicatos capineados pelo CPERS-sindicato, promoveram mais uma manifestação na estratégia de pressionar deputados a assinarem pedido de CPÌ para investigar o Governo Yeda. A idéia é desgastar. Impeacheament é algo improvável. Aliás, Yeda não é todo o governo, há Feijó e todo o grupo que os apoiam.

No fundo, a corrupção crassa em tantos espaços públicos que a população acha já tudo natural. Por certo, se outros lá estivessem diferentes não fariam. Quando se chega a esta constatação é o fundo do poço. Haverá ainda horizontes num país onde um presidente como Lula, diz que, um ex-presidente como Sarney é uma pessoa de "história" ilibada, de serviços prestados aos país?

sábado, 13 de junho de 2009

Mãos Cansadas

As vezes cometo poesias feitas de reflexões outras. Tentei inventar aqui com imagens.

domingo, 7 de junho de 2009

Uma idéia e iniciativa diferente

Garoto lendo num cruzamento onde pedia esmolas. Não seria melhor isso?

Pequeno Pedinte

Conto de Graciliano Ramos


Tinha oito anos! A pobrezinha da criança sem pai nem mãe, que vagava pelas ruas da cidade pedindo esmola aos transeuntes caridosos, tinha oito anos.

Oh! Não ter um seio de mãe para afogar o pranto que existe no seu coração! Pobre pequeno mendigo! Quantas noites não passara dormindo pelas calçadas exposto ao frio e à chuva, sem o abrigo do teto!

Quantas vergonhas não passara quando, ao estender a pequenina mão, só recebia a indiferença e o motejo! Oh! Encontram-se muitos corações brutos e insensíveis! É domingo.

O pequeno está à porta da igreja, pedindo, com o coração amarguarado, que lhe dêem uma esmola pelo amor de Deus. Diversos indivíduos demoram-se para depositar uma pequena moeda na mão que se lhes está estendida.

Terminada a missa, volta quase alegre, porque sabe que naquele dia não passará fome. Depois vêem os dias, os meses, os anos, cresce e passaa vida, enfim, sem tragar outro pão a não ser o negro pão amassado com o fel da caridade fingida.


Este pequeno conto é um dos primeiros momentos de GRACILIANO RAMOS no mundo da literatura. Tinha doze anos e já demonstrava senso literário. Foi publicado em 1904, no “O DILÚNCULO” foi um pequeno jornalzinho editado em Viçosa, cidade do estado de Alagoas.
Apesar da tênue idade, matizes psicológicas já podem ser sentidas. "fel da caridade fingida", nessa frase percebemos intrinsecamente que Graciliano Ramos já "sentia", mesmo sendo ainda muito jovem, problemas de personalidade humana, geralmente sentidos por pessoas adultas. Seu destino como escritor estava traçado.

Cena do cotidiano



A criança juntou os restos com olhar triste
Sem forças, pela barriga infestada de vermes.
As mãos mínimas, sujas de fome e descaso
Levaram a boca o dia de hoje sem amanhã.

A mãe, em andrajos, esquálida e triste,
Segurava outra criança nos braços
Com tal prostração que parecia sem vida
Sob a marquise de todo o seu desalento.

Pessoas olham a cena apiedados,
Outras com repulsa e censura,
Alguns fingem não perceber.

E, todos passam rapidamente
Para não se sentirem parte
Naquele cenário deprimente

terça-feira, 26 de maio de 2009

Feriados e diárias

A nossa "iluminada" Câmara, entende de feriados, muito.


O projeto de lei votado pela Câmara de Vereadores de Estância Velha, propondo a criação de um novo feriado municipal – o de Corpus Christi – criou uma nova celeuma na comunidade. Embora sejamos um povo que aplaude feriados com facilidade, em geral, o setor produtivo, comércio, industria e serviços, não comunga deste mesmo aplauso.

Para quem produz, um dia parado, é um dia se vender embora o período fiscal continue correndo, ou seja, parando um, dois, três dias, no mês, não reduz nem amplia os prazos fiscais para lançamento dos tributos. Um mês sempre terá 30 dias. Com menos dias trabalhados, tem-se menos tempo para produzir ou comercializar os produtos que proporcionem o lucro e, ao mesmo, tempo os recursos para fazer frente a carga tributária. Além disso, o salário dos funcionários permanece o mesmo embora a entrada de dinheiro possa diminuir por um dia parado.

Ainda, um feriado a mais, por conta do que foi observado acima, implicará evidentemente no aumento dos custos e, por isso, incidirá no preço final dos produtos oferecidos. Ninguém abrirá mão dos percentuais de lucro pretendidos (e os percentuais praticados no Brasil, são dos mais elevados do mundo). Então, é de se dizer que cada feriado a mais no calendário municipal, além, dos já inscritos como feriados nacionais não significa descanso e mérito para o trabalhador, significa antes aumento dos preços no próprios produtos que ele ajuda a produzir.

Por outro lado, o Brasil é uma Republica Democrática Federativa, ou seja, somos um Estado laico, não um Estado Religioso como é o Irã. A Igreja foi separada do Estado na proclamação da República em 1889, já tardiamente, mas separada. Então, qual a razão de haverem feriados religiosos sejam eles católicos, protestantes ou qualquer outra crença religiosa, se somos um Estado laico, mesmo que sejamos um pais sincrético?

No caso deste município, o argumento para o novo feriado foi de que já havia um oficial municipal o da Ascensão do Senhor, existente, por causa da população dita Protestante. Aliás, este, embora sendo um feriado Protestante, esta no calendário católico, até por que o calendário que todos seguem é o gregoriano, ou seja, foi promulgado pelo Papa Gregório XIII a 24 de Fevereiro do ano 1582. Constam dele o cronograma cristão a cerca do nascimento, morte, ressurreição e ascensão do Cristo.

É vem provável que para chegar a tal conclusão de aprovação de mais um feriado os vereadores tivessem – como fazem todos os vereadores – estabelecidos amplo debate com a comunidade nos seus mais diversos setores e representatividade. Só isso para entender como vereadores chegam as suas sábias decisões. Uma decisão tão sábia quanto aquele de ter negado ao Executivo a redução por este proposta, dos valores das diárias. Talvez, fizeram isso para não se sentirem pressionados moralmente a fazer o mesmo com esta segunda fonte de ganhos dos nossos nobres edis, as diárias. Enfim, no erro e no acerto, são nossos iluminados representantes, sejam eles de que municípios forem.

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Yeda e a Corrupção institucionalizada


As entidades representativas dos movimentos sociais do Rio Grande do Sul, capitaneados pelo Cpers-Sindicato, promovem nesta quinta-feira (14.05) mais uma ação, desta vez, em Porto Alegre, de protesto e critica ao governo Yeda/Feijó (PSDB/DEM). Estas ações vem acontecendo em outras regiões do Estado com maior ou menor intensidade. O movimento agora recrudesce devido a uma reportagem publicada na edição desta semana da revista Veja.


A matéria trata de denuncias contra o partido da governadora que há época da campanha eleitoral teria recolhido recursos de doadores de campanha (em geral grandes empresas que esperam se beneficiar de isenções ou contratos com o governo) e não registrado como tal. Pior, teria usado o dinheiro para a aquisição de uma mansão (fato já apontado em outras denúncias contra o governo como foi o caso do escândalo do Detran). Ora, a matéria da Veja tem por base o “testemunho” de uma pessoa que não presenciou os fatos, mas que diz ter informações sobre mesmo. Aliás, testemunhos estranhos não é novidade nem aqui na província da província, embora isso não impeça de fazer estragos a imagem de pessoas e instituições.


De qualquer forma, tal matéria já serviu de combustível para a oposição se movimentar na Assembléia Legislativa visando a implantação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar com “mais profundidade” os fatos. Ora, sobre o escândalo do Detran já houve uma CPI que passou apenas na superfície desta denuncia. CPIs, infelizmente, tem servido a muito pouco a não ser para dar palco tanto a oposição quanto a situação as custas dos tributos pagos pelos cidadãos.


CPI é um instrumento importante numa democracia. Permite que os legisladores, de fato, cumpram e exerçam as atribuições que lhe conferem o cargo para o qual o povo os elegeu e que são, além, de propor leis, fiscalizar o seu cumprimento e também as ações do Executivo e, inclusive, de si mesmo e, ainda, do Judiciário (muito embora sobre este último sempre se passe ao largo).


É certo que, apenas o governo de Olívio Dutra (PT) nos últimos anos foi tão questionado pelas suas ações quanto o governo Yeda/Feijó. O movimento “Fora Yeda” tem, evidentemente, forte conotação política que se insere na disputa que se anuncia para 2010. Mas, no atual compasso o que representaria para o Rio Grande o impedimento da governadora, se isso se concretizasse? Apenas a sua substituição, já ao final do próprio governo pelo seu vice e desafeto, Feijó? Talvez não seja isso i que querem os movimentos sociais e os partidos de oposição. O objetivo maior é desgastar um governo já totalmente gasto por si mesmo. É uma disputa antecipada do embate eleitoral do próximo ano. Espera-se que isso não sirva para retardar ou reduzir ações necessárias do governo pelo desenvolvimento do Estado. Independente da situação que apresente, um governo é sempre transitório, o Estado permanece.

sexta-feira, 1 de maio de 2009

A angustia de Dilma

O anúncio de que a ministra da Casa Civil - e virtual candidata a presidente da República-, Dilma Roussef, é portadora, e esta em tratamento, contra um tumor cancerígeno (um linfoma, espécie de câncer que atinge os gânglios), demonstra mais uma vez que um agente político, uma pessoa pública, não tem mais nem a privacidade da sua angústia. A doença que atinge a ministra, segundo os médicos, foi detectada no seu inicio e, ainda segundo eles, tem condições de ser debelada. O tumor foi retirado e ela esta em processo de tratamento quimioterápico podendo, inclusive, continuar trabalhando, embora se saiba que um tratamento sempre debilita as forças de qualquer pessoa por mais forte que seja.

Personagens públicos, sejam políticos ou artistas, acometidos de doenças dificilmente conseguem sofrer ou superá-las privadamente. Um ente político, com a dimensão e importância que vinha ganhando a ministra Dilma, por mais angústia que a doença possa lhe causar, talvez possa buscar na partilha pública desta mesma angústia mais força para superá-la. É o jugo de quem opta por sair do privado – embora isso esteja hoje cada vez mais difícil – e jogar-se no âmbito público. Luta semelhante trava o atual vice-presidente da República, José Alencar. De qualquer forma, a exposição pública e a forma como demonstram enfrentar a doença que os aflige, faz destas pessoas também exemplos para aqueles que sofrem do mesmo mal para que não esmoreçam.

Embora, seja verdade, que para os agentes políticos de alta graduação, os melhores recursos podem ser alcançados com mais facilidade do que para a imensa maioria da população.
Independente do aparato técnico de saúde disponível para as figuras mais ilustres do país, não se pode deixar de desejar que a cidadã, a mulher, Dilma Roussef supere este obstáculo. Independentemente de ser um agente político e estar, hoje, na condição de pré-candidata a sucessão do presidente Lula e, ainda, ter dele a benção a esta pretensão, um prognóstico não favorável ao seu restabelecimento pleno, certamente – e disso não se pode deixar de refletir – lançará novas especulações sobre a disputa eleitoral de 2010. Até agora, dentro do Partido dos Trabalhadores, a declaração aberta de simpatia e, até mesmo de projeção de Dilma Roussef pelo governo, já fazia sombra ao interesse de quaisquer outras pretensões entre os aliados governistas e mesmo dentro do próprio partido do presidente. Qualquer que seja o futuro e a saúde da ministra-candidata, as cartas já lançadas da sucessão podem sofrer mudanças para 2010.

domingo, 19 de abril de 2009

O que fazer com Senado, Assembléias Legislativas e Câmaras de Vereadores?


O noticiário político destas últimas semanas tem girado em torno do Senado Federal. Em função da "descoberta" de que haveriam cerca de 181 diretorias de alguma coisa lá, ganhou espaço aos criticos desta instituição democrática. O que pensar? Além disso, há ainda as denuncias de que senadores - e mesmo, deputados - ultilizam a verba de passagens áreas para custear viagens de amigos e familiares, ou seja, coisas que não são referentes ao trabalho de legislador. Dizer o que?
Há quem pregue que o Senado deveria ser extinto. Concordo. O Senado brasileiro cuja função seria a de aprofundar a discussão dos temas legislativos com base numa "sapiência" que seria virtude das pessoas mais velhas, nem de longe age com de encontro a estas atribuições.

Sou um democrata, defendo a democracia como um regime de governo fundamental para o aperfeiçoamento das liberdades individuais e coletivas. Por conta disso, quanto mais instrumentos existirem para a afirmação dos principios democráticos - da ampla participação dos cidadãos, se não direta, por meio de seus representantes que ele elege - mais forte forte será este regime de governo. O Legislativo é um dos fundamentos da República, de um governo. É a onde as leis são propostas, debatidas, aprovadas e, também, fiscalizadas a sua execução. Isto existe no regime democrático brasileiro?

Acredito que uma democracia como a brasileira não precisa, para se fundamentar, de instituições legislativas com a estrutura das atuais, a nivel municipal, estadual e federal. Um Congresso Parlamentar com a estrutura da Câmara de Deputados, seria suficiente a nivel federal. Existem para acompanhar e fiscalizar, a miúdo, estruturas como os Conselhos Federais de diversas instâncias, não precisamos para tanto de mais um Senado, onde seria o lugar dos "senex " (velhos sábios).

A nível, estadual qual o significado de uma Assembléia Legislativa com 55 deputados como no Rio Grande do Sul? O que produz? O que fiscaliza? Apenas para servirem os deputados de alberguistas? De despachantes dos eleitores? E as Câmaras de Vereadores? Em municípios de grande porte até aparecem com alguma importância no fomento dos debates politicos, mas nos pequenos, não tem o menor significado até por que o debate interno é nulo e provinciano.
A demais, a Constituição de 1988, abriu espaço para a participaçao, para o "controle social". Qual o municipio que não tem, pelo menos, uma dezena de conselhos municipais onde participam, mal ou bem, representantes da comunidade sem qualquer remuneração?

Não é dificil constituir-se como nação soberana e democrática, sem estes instrumentos hoje existentes, como Senado, Assembléias Legislativas e Câmara de Vereadores. Temos instrumentos legais para realizar a atividade legislativa e fiscalizadora diretamente, sem os custos que nos cobram hoje estes "instrumentos"democráticos.