A violência que explode na cidade do Rio de Janeiro, de forma mais ou menos intermitente, quando ganha os noticiários choca. Um integrante do Comitê Olímpico Internacional comentou que os cerca de 20 mortos resultantes do confronto entre traficantes e entre traficantes e policiais esta semana, é menor que o número de mortos nos atentados terroristas de Londres em 2005, por exemplo. Por isso, não via a violência na cidade do Rio de Janeiro como preocupante em vista das Olimpíadas de 2016.
Acho razoável a ponderação. Estive no Rio, participando de um congresso em 1986, no retorno comprei um jornal e li que haviam ocorridos 24 assassinatos entre sexta-feira e domingo. Havia ainda uma reportagem sobre como os rabecões (veículos que recolhiam os cadáveres) corriam para chegar primeiro e ficar com os despojos do morto. Terrível. Será que o Rio de hoje é outro que aquele de mais de duas décadas? Mais, como será o Rio de 2016, na sua convivência com este “estado de guerra” e violência?
A violência cotidiana enfrentada pelos cariocas, certamente, não é uma exceção. O que nos choca ali, é o enfrentamento direto e televisionado entre traficantes e entre policiais e traficantes e, mais, quando se noticiam que proliferam também milícias, uma espécie de grupos paramilitares que atuam extorquindo da população em troca de uma suposta “segurança”. A propósito, não pagamos Rio Grande a fora, alguns “pilas” por mês para “empresas” de segurança passarem duas, três vezes por dia ou noite pelas nossas ruas buzinando para “espantar” possíveis malfeitores?
Enfim, dizem sempre que o império do tráfico e da violência é a ausência do Estado. Não sei. As vezes, a violência praticada pelo Estado é pior do que a sofrida dos bandidos, grupos criminosos, quadrilhas. A violência do estado é exercida por governos e políticos que fazem leis que beneficiam o crime, que se corrompem, que investem pífios recursos em educação, que esquecem a saúde, que oprimem o povo com impostos escorcheantes. Isso, sem contar a violência explicita de um sistema policial mal preparado em todos os sentidos e um judiciário tristemente afastado do seu principio como poder responsável pela aplicação da lei de forma imparcial e igualitária.
De fato, a violência cotidiana do Rio, não é impedimento para a realização da Olimpíada. O tráfico é filho de uma sociedade desigual. O que é vergonhoso é o fato de que, de antemão, já sabemos que os bilhões que serão necessários para as obras que proporcionarão o evento, diante do que vemos também todos os dias, em se tratando de obras governamentais, já começam a ser corroídos pela ganância e ambição dos vermes que infestam a vida pública no país. Bem lembro de uma gravação (de uma destas operações de desarticulação de quadrilhas que agem no Rio Grande dilapidando o Erário) onde dois desses vermes trocavam informações sobre as falcatruas em andamento e um insinuava que a realização da Copa do Mundo (com jogos no Rio Grande do Sul), renderia muitas “possibilidades” de negócios devido as obras que o Poder Público seria obrigado a realizar. Se já a Copa atiça a rapinagem incrustada no Poder, o que se pode pensar da Olimpíada no Rio? Estes vermes são mais difíceis de combater que o tráfico e a bandidagem que prolifera país afora. Aliás, são eles uma violência maior pelo dano que causam ao país de forma permanente e contínua.
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