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domingo, 20 de setembro de 2009

Sofismas legislativos

Li um artigo do deputado federal Pompeo de Mattos (PDT) na editoria de “Tema para Debate” de ZH de 20.09.09. Há no mesmo espaço um contraponto do vereador Sebastião Melo (PTB-POA). Ative-me ao escrito do deputado, pois este é digno estar inscrito no portal da Galeria Sofismática da Política Brasileira. Ele defende o aumento do número de vereadores conforme Projeto de Emenda Constitucional (PEC), já aprovada na Câmara dos Deputados e também no Senado Federal. Afirma que a decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), “desarrumou a representação parlamentar nos municípios”, quando reduziu o numero de vereadores em municípios com população acima de 50 mil habitantes e manteve o mesmo número em município com população inferior a esta. É, sem dúvida, um primor de sofisma. Sofisma consiste em apresentar um raciocínio dedutivamente válido quando não o é.
O argumento é de que haverá redução do percentual destinado as Câmaras de Vereadores do Orçamento do município. É efetivamente, falsa esta afirmação. O fato é que raríssimos municípios, a exceção dos grandes, o percentual constitucional de recursos a serem repassados aos Legislativos é integral.
Apliquemos um exemplo: em Estância Velha, o salário de um vereador é de R$ 2.600,00. São nove. Ou seja, R$ 304.200,00 (já considerando 13º. É vereador também tem). A partir de 2010, serão mais 4 (conforme o texto da Câmara). Isso significará um gasto adicional de R$ 135.200,00 (44,44%, a mais!!!) Isso sem contar os assessores e diárias. Neste item, em 2008, os nove edis de Estância Velha gastaram R$ 222.942,06. O percentual de gastos do Legislativo em relação as receitas correntes do município, não chega a 2%, justamente por que os vereadores estão amarrados ao salários cujo valor só pode ser modificado de um mandato para o outro e, neste período, só podem sofrer reajustes nos percentuais que o Executivo conceder a todos os servidores.
Com a proposta defendida pelo deputado Pompeo de Mattos, fica visível que haverá acréscimo substancial nas despesas com a manutenção do Legislativo que corresponde a metade dos gastos anuais do município com medicamentos distribuídos gratuitamente para a população. Isso se os atuais não fecharem um acordo com os eleitos para o mandato seguinte e aumentarem os vencimentos totais para o próximo mandato.
Estes dados referem-se a um município de médio porte. Estância Velha tem ao redor de 42 mil habitantes e um orçamento anual de R$ 56 milhões (2009). Pode-se daí observar que qualquer município deste ou de porte maior que não a capital, onde o imoral percentual constitucional não é atingido, mesmo que agora reduzido, sofrerão com a mesma situação. Haverá, sim, elevação das despesas e, de forma significativa, como se vê em Estância Velha, nesses municípios.
O sofisma, a falácia, é um exercício que faz parte da política, infelizmente, mas o deputado Pompeo de Mattos, poderia exercitar a verdade e dizer apenas que mais vereadores, significam mais “cabos eleitorais” de deputados e senadores. Seria um gesto corajoso, digno de um representante do povo. Mas isso já não faz mais parte da grande maioria dos homens públicos eleitos pelo voto do povo: dignificar o voto que recebem.

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