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quarta-feira, 28 de outubro de 2009

O fluir da moral


Tudo flui, afirmava o filósofo Heráclito, da cidade de Éfeso (onde hoje esta situada a Turquia), lá pelo século IV, antes de Cristo. Em grego a afirmação seria:”pan thá rei!” Numa tradução mais ao entendimento contemporâneo: “nada é para sempre”. Aliás, este é o titulo em português de um belíssimo filme de Robert Redford, que com inesquecíveis imagens da paisagem do estado de Montana, nos EUA, conta a historia de dois filhos de um pastor que tomam rumos diferentes na vida. Vale a pena procurar o filme nas locadoras, deve ter em DVD, embora seja do inicio da década de 90.

Ocorreu-me a lembrança do filme por que o centro da história são pescarias realizadas entre o pai e os dois filhos, quando crianças e depois já jovens. Uma convivência de respeito, digna, afetuosa. Fez-me lembrar que, quando garoto, tive pouco tempo para desfrutar da convivência com meu pai, mas restaram três ou quatros boas lembranças daquele pouco tempo de convivência que me trazem a memória a serenidade com que ele encarava os fatos, mesmo aqueles que deixavam minha mãe alvoroçada ou, eu, como criança, temerosa. Papai partiu há 40 anos.

Por certo, as afetividades de hoje não são iguais as de 40, 30 anos para trás. Os laços familiares parecem ter-se modificado. A convivência e o respeito entre indivíduos de faixas etárias diferentes de tempos passados é bem diverso dos desses tempos “mudernos”. Não que se deva ter uma ideia saudosista e romântica dos “anos da minha infância”, mas é evidente que as responsabilidades e as necessidades no provimento e na constituição de uma família, nos dias atuais, parecem ter legado o exemplo e a educação dos filhos para outros que não o pai e a mãe. Hoje, observo em boa parte de meus alunos, meros resquícios de fundamentos morais sem os quais parecia impossível a convivência em outros tempos.

Assim, parece que a fase da anomia (do grego, a, “negação” e nomos, “lei”= algo como “sem lei”) que Jean Piaget, atribuiu a primeira fase da vida da criança, período em que ainda não tem estabelecidos valores morais, permanece para toda a vida. Temos uma geração de anômanos que talvez gerem outra geração de anômanos e assim iremos, nesse fluir triste, a uma condição de sociedade de completa ruína moral?


Diante de tal realidade, um dos princípios categóricos do filósofo Imanuel Kant que pregava: “age de tal forma que o teu agir possa tornar-se uma lei universal”, no sentido de: “não faça aos outros o que não quer para si mesmo”, parece estar acontecendo às avessas. Será que esse fluir, esta mudança permanente de tudo e todos o tempo todo e sempre, no sentido heraclitiano, poderá também nos levar a volta de tempos mais afáveis? Ou, irremediavelmente, o fluir só flui para a frente, para tempos feitos de cada vez mais luz, mas tanta luz que menos ilumina e mais cega?

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

Diferenças entre Yeda e Lula

A governadora Yeda Cruzius, como já era esperado foi anestiada a priori, pelo menos, no conceito dela, do impichamento. Era evidente que tendo uma maioria significativa, o processo de impeachment seria arquivado. Os deputados governistas apenas caem no ridículo, mas ele nem ligam para isso. O grau de rejeição do governo Yeda é invenção midiatica ou da oposição. E ficamos nisso. Já não é mais o Rio Grande este que temos.

Por outro norte, esta o presidente Lula, com a sua candidata a presidente, a ministra Dilma, a tiracolo, percorrendo o pais “inaugurando” obras, ou inícios de obras, enfim, não importa. Importa expor a candidata ao conhecimento dos 70% que aprovam o seu governo buscando vincula-la a este percentual. É certo que isso é campanha eleitoral. E ele, vai a publico dizendo que é intriga da oposição. Sou eleitor do Lula, sei que a luta política no Brasil é de foice no escuro mas acho que os princípios morais do presidente são muito voláteis.
Entre Lula e Yeda a distância em termos de conceitos morais, em se tratando a vida política e pública, parece-me que tem a distância de milonésimos de centímetros.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Vermes da violência


A violência que explode na cidade do Rio de Janeiro, de forma mais ou menos intermitente, quando ganha os noticiários choca. Um integrante do Comitê Olímpico Internacional comentou que os cerca de 20 mortos resultantes do confronto entre traficantes e entre traficantes e policiais esta semana, é menor que o número de mortos nos atentados terroristas de Londres em 2005, por exemplo. Por isso, não via a violência na cidade do Rio de Janeiro como preocupante em vista das Olimpíadas de 2016.

Acho razoável a ponderação. Estive no Rio, participando de um congresso em 1986, no retorno comprei um jornal e li que haviam ocorridos 24 assassinatos entre sexta-feira e domingo. Havia ainda uma reportagem sobre como os rabecões (veículos que recolhiam os cadáveres) corriam para chegar primeiro e ficar com os despojos do morto. Terrível. Será que o Rio de hoje é outro que aquele de mais de duas décadas? Mais, como será o Rio de 2016, na sua convivência com este “estado de guerra” e violência?

A violência cotidiana enfrentada pelos cariocas, certamente, não é uma exceção. O que nos choca ali, é o enfrentamento direto e televisionado entre traficantes e entre policiais e traficantes e, mais, quando se noticiam que proliferam também milícias, uma espécie de grupos paramilitares que atuam extorquindo da população em troca de uma suposta “segurança”. A propósito, não pagamos Rio Grande a fora, alguns “pilas” por mês para “empresas” de segurança passarem duas, três vezes por dia ou noite pelas nossas ruas buzinando para “espantar” possíveis malfeitores?

Enfim, dizem sempre que o império do tráfico e da violência é a ausência do Estado. Não sei. As vezes, a violência praticada pelo Estado é pior do que a sofrida dos bandidos, grupos criminosos, quadrilhas. A violência do estado é exercida por governos e políticos que fazem leis que beneficiam o crime, que se corrompem, que investem pífios recursos em educação, que esquecem a saúde, que oprimem o povo com impostos escorcheantes. Isso, sem contar a violência explicita de um sistema policial mal preparado em todos os sentidos e um judiciário tristemente afastado do seu principio como poder responsável pela aplicação da lei de forma imparcial e igualitária.

De fato, a violência cotidiana do Rio, não é impedimento para a realização da Olimpíada. O tráfico é filho de uma sociedade desigual. O que é vergonhoso é o fato de que, de antemão, já sabemos que os bilhões que serão necessários para as obras que proporcionarão o evento, diante do que vemos também todos os dias, em se tratando de obras governamentais, já começam a ser corroídos pela ganância e ambição dos vermes que infestam a vida pública no país. Bem lembro de uma gravação (de uma destas operações de desarticulação de quadrilhas que agem no Rio Grande dilapidando o Erário) onde dois desses vermes trocavam informações sobre as falcatruas em andamento e um insinuava que a realização da Copa do Mundo (com jogos no Rio Grande do Sul), renderia muitas “possibilidades” de negócios devido as obras que o Poder Público seria obrigado a realizar. Se já a Copa atiça a rapinagem incrustada no Poder, o que se pode pensar da Olimpíada no Rio? Estes vermes são mais difíceis de combater que o tráfico e a bandidagem que prolifera país afora. Aliás, são eles uma violência maior pelo dano que causam ao país de forma permanente e contínua.

domingo, 11 de outubro de 2009

Político faz na vida pública o que faz na privada?


Afinal, a casa da cidadã Yeda Cruzius é extensão do ambiente de trabalho da Governadora Yeda Cruzius? Literalmente o que ela faz e adquire no exercício da sua função pública ela pode fazer também na privada? Ou vice-versa.

Em que situação chegamos no Rio Grande do Sul!?. Justifica-se com a tinta e o papel da lei que um ente político, cujo exercício do cargo é transitório, pode usufruir do erário, do dinheiro do contribuinte, para fins privados. Sim, esta é a explicação dada pelos cordatos (ou cordeiros?) defensores do governo de Yeda Cruzius (PSDB, PTB, PMDB, PP). O fato de aparecerem notas cobrando ao cidadão-contribuinte, através do caixa do governo, móveis e outros serviços prestados na casa da senhora Yeda Cruzius, justifica-se pelo fato de ela ser a governadora eleita pelos gaúchos?

Por esta ótica, de que a privada é extensão da atividade pública, o prefeito de qualquer cidade pode adquirir móveis e fazer reformas na sua casa e mandar a conta para a contabilidade da prefeitura. Da mesma forma, o presidente do Legislativo Municipal. A questão é apenas de conceito moral já que a lei permitiria tanto.

É certo que este último fato – o de que a governadora Yeda Cruzius, usou dinheiro do Erário para fins privados da cidadã Yeda Cruzius – não deve também ter sido considerado pela relatora do processo de impeachment, a deputada Zilá Breitembach (PSDB). Até por que é mais recente e outros de igual ou maior nível escandaloso deverão surgir até o final do mais desastrado governo que o estado já teve. Por conta disso, a deputada entendeu, ao assinar o relatório negando andamento ao processo, que todos os fatos, gravações, indícios e provas até agora apresentados a sociedade não passavam de ilações mentirosas, falsas dos que fazem oposição a governadora, dos que rejeitam o seu governo, ou seja, segundo pesquisas, perto de 70% do eleitorado gaúcho. Não se esperava outra coisa da ex-prefeita de Três Passos embora, às vezes, ela pareça constrangida na sua persistente defesa do governo do seu partido, pois deve ter em conta que fez dois governos sérios e isentos sobre os quais não recaiu tantas dúvidas como recaem agora sobre a sua companheira de partido que esta no Piratini.

Tudo isso que acontece no estado, por certo, tem como uma das suas causas o processo eleitoral que se desencadeia tão logo o governante eleito toma posse para cumprir o mandato que lhe delega o eleitor. O que pode servir de refrigério a nossa alma gaúcha é que tudo isso sirva de lição para que estejamos mais atentos ao direito que legamos aos políticos para nos representarem na condução do país, do estado e do município. Não devemos aceitar que eles façam na vida pública o mesmo que fazem na privada.

domingo, 4 de outubro de 2009

Adios, La Negra!


Hoje, fiquei consternado. Mercedes Soza, la Negra, partiu. Aproveitei o dia para ouvir canções dela. Mulher cuja voz a todos encantava tanto na música como quando manifestava suas idéias políticas. É triste perder pessoas deste naipe. A impressão que se tem é que os ruins vivem mais. Não morrem. Não passam. Penso, às vezes, que estes personagens tão necessários a história recente pelas suas trajetórias, caráter e personalidade, vão envelhecendo e, com isso, partindo. Terão substitutos? Quem os sucederão?
Hoje também, fazem 40 anos que meu pai faleceu. Foi lá no ano de 1969, aos 33 anos, eu com 8 anos para fazer 9. Poucas e esmaecidas lembranças que cultivo com carinho. Teria hoje 73 anos. Como seria o “seu” João Baptista, com seus bastos cabelos negros e entradas significantes, nesta idade?

sábado, 3 de outubro de 2009

O Brasil Olímpico

Em 2016 teremos a Olimpíada. A cidade do Rio de Janeiro será o epicentro do esporte mundial. É a culminância do projeto que já teve um ensaio grandioso com os Jogos Pan-americanos e, este ano foi corroborado com a indicação do Brasil também para sediar a Copa do Mundo de Futebol de 2014. Então, no período de uma década o Brasil estará sendo o centro de grandes acontecimentos desportivos. Depois de séculos e, principalmente, nas ultimas décadas apenas ensaiando sair da periferia das nações desenvolvidas, o Brasil de tantos presidentes ilustrados está entrando na sala de reuniões dos países que serão ouvidos e influirão de forma decisiva no mundo pelas mãos de um presidente tido como sem lustro e erudição.
É certo que tanto a Copa do Mundo como as Olimpíadas, assim como foram os Jogos Pan-americanos, envolvem projetos grandiosos de infra-estrutura. Isso significa somas vultuosas de recursos públicos e privados. Lidar com volumes significantes certamente atiça a cobiça daqueles que circulam nos corredores do poder. Assim, como os gastos totais para os jogos Pan-americanos nunca ficaram esclarecidos, sabe-se, de antemão, infelizmente, pelo histórico do país que não faltaram suspeitas do inicio ao fim da execução dos projetos para os jogos. É a nossa sina?
Certamente, em outros paises onde aconteceram os jogos a implantação da infra-estrutura, as obras não aconteceram totalmente na limpidez. Independente disso, não se pode negar que projetos desta envergadura geram empregos, movimentam a economia, geram gastos, por certo, mas servem também para melhorar consideravelmente a infra-estrutura dos centros onde acontecem. Há ainda, o estimulo, o incentivo as praticas desportivas. Muitas, hoje, promessas no campo dos esportes, até os jogos olímpicos, com incentivo, apoio, poderão concretizar-se em resultados de sucesso.
O que poderemos colher de tudo isso nesta década de preparação até culminar com a realização dos eventos e o que colheremos após eles? O resultado certamente será aquilo que nós permitirmos que seja. É certo que os bilhões que serão consumidos para preparar o país para os jogos deveriam ser também investidos na mesma medida numa área fundamental que é a educação. Neste campo precisamos andar mais depressa do possamos caminhar para colocar o país e os lugares onde os eventos ocorrerão em condições para que eles se realizem. De qualquer forma, os jogos acontecerão o que temos que fazer é dar o melhor que o pais possa dar para que se realizem como marca de um novo Brasil de fato, mesmo que hajam aqui arraigados velhos costumes.