Ocorreu-me a lembrança do filme por que o centro da história são pescarias realizadas entre o pai e os dois filhos, quando crianças e depois já jovens. Uma convivência de respeito, digna, afetuosa. Fez-me lembrar que, quando garoto, tive pouco tempo para desfrutar da convivência com meu pai, mas restaram três ou quatros boas lembranças daquele pouco tempo de convivência que me trazem a memória a serenidade com que ele encarava os fatos, mesmo aqueles que deixavam minha mãe alvoroçada ou, eu, como criança, temerosa. Papai partiu há 40 anos.
Por certo, as afetividades de hoje não são iguais as de 40, 30 anos para trás. Os laços familiares parecem ter-se modificado. A convivência e o respeito entre indivíduos de faixas etárias diferentes de tempos passados é bem diverso dos desses tempos “mudernos”. Não que se deva ter uma ideia saudosista e romântica dos “anos da minha infância”, mas é evidente que as responsabilidades e as necessidades no provimento e na constituição de uma família, nos dias atuais, parecem ter legado o exemplo e a educação dos filhos para outros que não o pai e a mãe. Hoje, observo em boa parte de meus alunos, meros resquícios de fundamentos morais sem os quais parecia impossível a convivência em outros tempos.
Assim, parece que a fase da anomia (do grego, a, “negação” e nomos, “lei”= algo como “sem lei”) que Jean Piaget, atribuiu a primeira fase da vida da criança, período em que ainda não tem estabelecidos valores morais, permanece para toda a vida. Temos uma geração de anômanos que talvez gerem outra geração de anômanos e assim iremos, nesse fluir triste, a uma condição de sociedade de completa ruína moral?