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domingo, 1 de fevereiro de 2009

Continho

Antonio João Livre

Levantou-se da sua cadeira. Abriu abruptamente a porta. Atravessou o corredor em quatro passos rápidos. Abriu a porta em frente, varou a sala em silêncio. Chegou a janela, puxou a persiana, forçou as duas folhas de vidro. Sentiu uma lufada de ar quente no rosto. Olhou o horizonte possível daquele décimo andar. Respirou fundo. Não olhou para baixo, olhou para frente. Virou-se. Lançou-se no ar e voou.

- Tu lembra do Antonio João? – perguntou, de repente, Alice Maria.
- Ué! Por que isso agora? – respondeu Aníbal José.
- Não sei. Vi agora aquele passarinho ali, no parapeito da janela e ocorreu-me a lembrança dele - tentou explicar.
- Pois é. Ele, de repente, levantou, disse: “chega”, abriu a porta, atravessou o corredor. Foi a até a sala do Altair César e pediu demissão. Nem esperou resposta, nem deu mais explicação. Nunca mais o vimos – completou Afonso Moisés, entrando na conversa.- Onde ele estará agora? Murmuram os três uníssomos e, calaram.
A sala mergulhou em um silêncio de pensamentos e ruído de teclados e papéis como se fossem correntes arrastadas por presos imaginários.

Um comentário:

  1. Um dia desses estava comentando com um amigo sobre os "cabrestos", "rédeas", ou correntes que o mundo nos coloca ou tente colocar. Mas falavamos, principalmente, sobre o quanto somos coniventes aceitando esse "cabrestos", essas "rédeas", ou correntes. Talvez conivência não seja a palavra certa, eu diria que por termos nascidos nessa realidade não sabemos como vai ser se nos libertarmos dela. Aí, pagar um preço que não sabemos qual é, nos lançarmos no vazio ainda que fértil, é uma decisão que "ruminamos" longamente. Mas quando nos decidimos por ela, bah... liberdade é um sentimento que ainda precisamos aprender a conviver. Tania.

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