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segunda-feira, 16 de novembro de 2015

Sobre o artigo: Corte de salários. Seria esta a solução?

Muito bom que a proposta de um Projeto de Iniciativa Popular (instrumento previsto na Constituição Federal, na Estadual e, também, na Lei Orgânica Municipal), visando a participação direta da população na definição da remuneração de cargos eletivos, esteja suscitando interrogações, questionamentos, duvidas, debate, enfim.  ISSO É DEMOCRACIA!

Li o texto, do amigo Lucas Argentino, no blog www.baralhodeopinioes.blogspot.com.br , "Corte de salários. Seria esta a solução?". De inicio, é colocada uma pergunta pertinente:  “será que o dinheiro que esta sendo mal gasto é com o pagamento de Prefeito, vice, secretário e vereadores?   Não, o dinheiro não esta sendo mal gasto, mas pode-se gastar menos.  Não é o fato de ser “bem” gasto que dá permissão para se gastar o quanto quiser.
Contra esta resposta Lucas Argentino emenda outra: “é certo o governo municipal ficar dependente apenas do “dinheiro que vem de cima”?  A interrogação leva em conta que há uma crise nas finanças da União e do estado e, por conta disso, o município esta em dificuldades por ser “dependente” dos recursos repassados por estas esferas de governo. Não bem assim ou apenas isso.  

 Na verdade  as receitas que constituem o orçamento de qualquer município, tem como origem uma única fonte: os impostos que todos pagamos, nas suas mais diversa formas.  Assim, o Orçamento  Municipal, é composto por “receitas tributárias”  ou seja, aquelas originárias de impostos gerados pelo próprio Poder Executivo Municipal (IPTU, ITBI, ISSQN, IR ) e também por taxas (que o município cobra por serviços que presta) e contribuições (como a contribuição de iluminação pública que, na verdade, é utilizada quase que integralmente, para o município pagar a AESul).  O restante dos valores que compõe o Orçamento Municipal, são decorrentes das chamadas “transferências governamentais” , oriundas de impostos cobrados pela União e pelo estado que ao final e ao cabo, viram  siglas como estas: FPM, Fundeb, ICMS, IPVA, etc.  Concluindo:  Em média, no caso de Estância Velha, as “receitas próprias” contribuem com 30% das necessidades do município para prover suas despesas com a manutenção dos serviços públicos e, ainda, fazer algum investimento.  Os demais 70% são resultados das “transferências governamentais”.  Ou seja, somos uma república federativa com um governo central que arrecada grande parte dos impostos que pagamos e depois rateia, entre os estados e municípios, parte desta arrecadação, segundo critérios complexos.  Assim, regiões, municípios, estados, mais fortes, ajudam para que continuem existindo, inclusive, os mais fracos onde também moram, vivem e produzem e, geram impostos, outros tantos muitos brasileiros. 

Então, o que pode fazer a administração, um governo municipal para aumentar sua receita, “ter seu próprio dinheiro”?  Pode, além de uma gestão austera e eficiente e, diante da necessidade de prover as demandas sociais e os serviços públicos, aumentar impostos e taxas.  Quem quer isso?  Ou, então, reduzir onde é possível reduzir – subsídios de um mandato para outro -, posto que não pode reduzir salários dos servidores efetivos, nem deixar de atender as demandas de manutenção dos serviços públicos já existentes. Pode , também, não criar novos serviços para beneficiar a população.

Quando o mundo, é sacudido por uma crise – e as crises são cíclicas, o Brasil viveu uma década boa e agora, talvez, enfrente uma década ruim  – há países, estados ou municípios – raros -, que podem ser menos afetados, mas não deixarão de serem afetados pelo que já atingiu a todos ao seu redor.   Em crise econômica, no mundo capitalista, não existe quem não perca, mas é certo que há uns poucos  que ganham. E muito.  De qualquer forma, no quadro atual, no nosso país, estamos vendo que o Governo Federal – que errou enormemente na condução da politica econômica, no ultimo quadriênio, seja para ganhar a eleição, seja porque não conseguiu prever  os fatos que  hoje atingem todo o mundo -, esta  desenvolvendo ações antipáticas, impopulares, para “fazer caixa”, a fim de manter um mínimo de funcionamento de seus projetos e programas.  Como é quem mais arrecada e depois distribui, com a redução da produção arrecadará menos e distribuirá (já esta distribuindo)  pouco, então, a crise afetará todos os municípios, cada um na sua dimensão.  E é tal a realidade que a cada dia se vê mais municípios desenvolvendo ações com vista a contenção, senão, redução de despesas nas mais diversas áreas, entre as quais, os subsídios que os “agentes políticos” se autoconcedem e que, por conta própria, raramente os reduzem, a não ser por pressão popular.

O amigo Lucas Argentino, diz que o “maior problema não é a falta de dinheiro, mas a má gestão do dinheiro público”.  Está correto.  Agora considere a falta de dinheiro mais a má gestão e teremos a realidade do nosso município.  Mas, e daí?     A má gestão não temos como resolvê-la agora.  Os estragos causados por ela, terão repercussões por muitos anos.  Diante disso, uma iniciativa como esta, visando a fixação de subsídios para estes cargos, como proposta oriunda da própria população, é um começo para se entrar no novo mandato, com “os pés da realidade”, econômica do município e financeira da prefeitura.  O argumento de que o Legislativo “tem contribuído” com  o Executivo, quando “economiza” recursos que poderia gastar amparado pelo que a lei, é pertinente, mas não é válido. Dizer que o Legislativo, “economiza” é quase uma falácia.    O Legislativo não gera receita, só despesa. 

A Constituição Federal  no Inciso I, do Art. 27 A, dispõe que em “municípios com população de até 100 mil habitantes, pode o Legislativo dispor, para suas despesas, de até 7%,   da soma das Receitas Tributárias (próprias) e  Receitas Constitucionais (transferências correntes).  Em Estância Velha, por exemplo, considerando o valor arrecadado em 2014, o Poder Legislativo poderia dispor para suas despesas de até R$ 7 milhões (!!!).    Então, ao elaborar o Orçamento anual, a Mesa Diretora do Legislativo, poderia fixar este valor como o total das despesas que teria para o exercício seguinte.  Por força, desta mesma lei, o Executivo dividiria este valor total em 12 partes e repassaria mensalmente,  R$ 583.333,00.  Estaria o Executivo agindo dentro da lei e o Legislativo também,  por mais que a despesa mensal do Legislativo não seja superior a R$ 150 mil.  

Então, se auferisse tal repasse – tudo legal – o Legislativo não tendo como gastar o global do que recebe de repasse mensal em vista do que definiu como sua despesa no próprio orçamento, “economizaria” R$ 433 mil todo o mês.   Reteria este dinheiro e, ao final do exercício ou no meio do semestre, “devolve” ao Executivo o montante total “economizado” até a data.    Disso, resta uma questão: se sabem qual é o total da despesa do Legislativo, por que fazem um orçamento com valores acima do que é a despesa de fato? Apenas para atender ao preceito constitucional?     Pois, o dinheiro que  não gastam e retém, não é do Executivo, é do povo!  Este dinheiro que fica retido até que, com pompa e circunstância  e fotos, “devolvem” ao Executivo, poderia, no transcurso do exercício, já estar sendo usado para custear as despesas dos serviços prestados a população!   

Por fim, os vereadores podem sim interferir no no Projeto de Lei de Orçamento Anual (LOA), remanejando  despesas para outros projetos ou propondo novos projetos deste que não signifiquem despesa maior do que o valor proposto no Orçamento.  Assim, poderiam, por exemplo, da sua primeira proposta orçamentária, quando da confecção da Lei Orçamentária Anual (LOA) votada ainda no primeiro semestre, remanejar seus próprios recursos  que, já antes de gastos, são excedentes, para outras rubricas no orçamento do município ou para projetos de investimento ou custeio que eles próprios apresentassem.    
Dissestes bem ao se referir ao “dinheiro que  a Administração não pode contar, mas que sempre volta para ela”. Isso é verdade, retorna tardiamente e, via de regra, é utilizada para a folha de pessoal.

Ao propor um valor orçamentário maior do que as suas próprias despesas, o Legislativo esta usando uma estratégia de apenas reter recursos do Executivo.  Mas deve ter-se em conta que essa estratégia prejudica o desenvolvimento das ações que são próprias do Executivo e não do Legislativo, ou seja, prestar serviços a população, nas mais diversas e necessárias áreas.

Por fim, o argumento de que um valor menor do subsídio seria um estimulo  a corrupção, não merece ser considerado.  Fosse isso, até 1977 quando o exercício do cargo de vereador não era remunerado, se teria formado uma nação de ladrões do Erário Público.  Contra um caráter defeituoso não há dinheiro maior, menor ou nenhum dinheiro que o impeça  de cometer atos contrário aos princípios éticos e de honestidade.  O que eleitor deve fazer é  identificar aqueles cujo caráter inspire a confiança que quer ver num seu representante a qualquer cargo público e dirigir seu voto e vigilância a este. 

Coletadas as assinaturas necessárias, sendo protocolado na Câmara e entrando na pauta de apreciação do Legislativo, dará a população a exata dimensão de como vêem a atividade politica, tanto os vereadores que elegeu para este mandato, quanto aqueles que postulam serem candidatos para o próximo mandato seja a vereador, prefeito ou vice-prefeito. Apoiar, assinar ou ser contra esta iniciativa serve para balizar o que pensam, querem e interpretam o que seja um mandato para o Executivo ou para o Legislativo os que nele já estão ou os que se pretendem candidatos a eles, no próximo mandato.    Os cargos que compõe estas duas esferas de poder da República, no âmbito do município, o Legislativo e o Executivo,  representam antes um encargo público ao qual se sujeitam aqueles que querem “servir a comunidade”, quando concorrem.  Não são empregos que acenam com uma boa remuneração e pouca atividade ou exigência técnica.  Ao contrário. 

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