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sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Somos todos idiotas?


No prédio do Legislativo há uma placa onde, ironicamente, se lê: "Trabalhando unido pela comunidade".






É comum utilizarmos a palavra "idiota" como um adjetivo pejorativo, mesmo não sabendo sua verdadeira etimologia. Encontramos nos dicionários definições como: "pessoa ignorante, burra, sem cultura, sem noção de nada, sem senso". Sinônimos são vários: "asno, tonto, mané, bocó, sonso, imbecil, otário, trouxa".

Pesquisando, no entanto a origem etimológica da palavra descobre-se que ela nasceu na democracia grega, em priscas eras, século IV a III antes de Cristo. Para os gregos "idiotés" era o termo usado para designar todos aqueles que não participavam da vida pública na "pólis", que significa cidade. Dai também "polités", politico, em certa forma "aquele que vivencia ou vive na cidade, o cidadão. Idiotas, portanto, para os pregos eram todos aqueles que não se importavam com o destino da cidade, vivendo abstraídos dos debates na "ágora" (praça em grego), onde os cidadãos (polités) se reuniam para deliberar em acalorados debates e discursos, no voto, sobre o destino da cidade, aprovando ou não as ações que o governante da cidade devia ou queria tomar.

Em Estância Velha, na surdina, em sessão "jetomizada", no recesso, foi aprovado um projeto de lei Legislativo criando uma dezena de cargos de "assessoria" parlamentar, com um custo anual estimado em R$ 160 mil, causa estranheza e espanto a quem esta atento e, de certa forma, participa dos espaços sociais de debate e deliberaçao sobre a vida da cidade. Estes se sentiram uns "idiotas" no termo pejorativo da palavra. Porém, a imensa maioria que vive como os "idiotés", no entendimento dos antigos gregos, nem sabe disso e pouco se indignará com isso. Talvez faça ou fez um muxoxo de tédio e apenas murmurado bovinamente: "não se esperava outra coisa".

Votei, mas não pedi voto, em um dos vereadores que hoje compõe a "Casa Legislativa". Não lamento. Estamos sujeitos a decisões erradas. Mas, esta atitude, bem como a criação de um tal "Fundo do Legislativo" e ainda, a ampliação da dotação orçamentária do Legislativo para 2010, foi a gota d´água. Observo ainda que as duas mulheres vereadoras, pelas quais nutri grande esperança de qualificar o debate, em geral paupérrimo, que ocorre na Câmara, assinaram tanto esta quanto as outras "ações" legislativas nominadas. São as únicas representantes no Legislativo com curso superior. Isso, acreditei, ajudaria a fazer a diferença. Mas, pelo visto, a escolaridade não ajuda no discernimento de conceitos morais em política.

É certo que vivemos num país onde contemplamos uma legitima corja de ladrões que se perpetuam ou se alternam no poder no nefasto trabalho de dilapidar o patrimônio publico, valendo-se da falta de consciência politica de uma massa de cidadãos que preferem viver na condição dos "idiotés" gregos. é bem verdade que muitos se orgulham da sua apatia política. Dizem que "politica é coisa de políticos", que o povo não sabe fazer nada, que somos todos uma massa de alienados. Este tipo de pensamento, enquanto continuar dominante, consolidará o nosso país, o nosso estado, a nossa cidade como um exemplo mais degradante de uma classe política e, mesmo de uma sociedade com valores cada vez mais longe do que se espera de um pais, desenvolvido, civilizado.

Acredito que, para sairmos deste nível, precisamos tomar atitudes, pequenas, cada um no seu espaço social. Saber-se políticos no verdadeiro sentido da palavra, ou seja, de cidadão, de pessoa que participa, que se interessa, que quer conhecer os meandros do poder que delegamos, através da nossa democracia representativa, aos melhores e não a escória moral da sociedade, seja em âmbito for. A participação política não se dá apenas votando ou indo uma vez ou outra a uma sessão na Câmara, a uma "audiência pública" do Executivo ou filiando-se a um partido. A participação se dá nos conselhos de controle social, no CPM da escola, na associação do bairro, na entidade representativa de classe.

Seria melhor se batêssemos no peito com orgulho dizendo: "sim, eu participo, eu quero saber, eu quero conhecer", do que agir como um idiota dizendo: "política é tudo podre, associação não adianta, eu cuido da minha vida". Os "idiotés" gregos, em determinado momento foram tantos que a grande cultura e sociedade grega antiga, ruiu. Que fique com a gente, diante de tais ações de nossos agentes políticos, um sentimento de idiota, mas não uma atitude idiota, antes um sentimento de indignação que se transforme em ação. Talvez ainda haja tempo para evitarmos a ruína total do país, das nossas cidades, como nação, como povo.

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